Luis Masiero


O RACISMO POR TRÁS DO FASCÍNIO: DESCRIÇÕES DOS CHINESES PELOS PORTUGUESES DO SÉCULO XVI
Luis Fernando Masiero

Introdução, aspectos teóricos e metodologia
Não é novo dizer que o Império Português estendeu-se pelos quatro cantos do mundo. No Brasil, todavia, ainda são escassos os estudos sobre as experiências lusitanas no Oceano Índico. Este artigo, ainda que breve, se propõe a abordar as incursões portuguesas no mar da China no século XVI, mais precisamente entre os anos 1550 e 1560. Para tanto, o tema específico aqui trabalhado será o da alteridade. As descrições dos chineses e de sua civilização, por parte dos ibéricos, serão aqui postas em análise, tendo em vista a identificação de passagens racistas na cultura escrita da época. Ainda que elogiosos para com o Império Celestial da Dinastia Ming, os relatos aqui expostos deixam claro que as manifestações de fascínio em relação ao “outro”, não obstante, podem coexistir com práticas discriminatórias.
Para fins desde trabalho, e do ponto de vista teórico, faz-se necessário distinguir “identidade” e “racismo”. Ao entrar em contato com as fontes aqui utilizadas, pode-se ter a impressão de que os relatos ofensivos são manifestações “naturalizadas” do etnocentrismo europeu. Para Jörn Rüsen, “o etnocentrismo é uma estratégia cultural difundida para efetivar a identidade coletiva distinguindo o seu próprio povo de outros” (RÜSEN, 2009, p.175). Antes de ser uma manifestação meramente racista, o etnocentrismo é um artifício social que procura legitimar a “autoestima” do grupo diante da alteridade e que, portanto, pode ser considerado, para este autor, “quase naturalmente inerente à identidade humana” (2009, p. 174-175).
Todavia, como no caso dos portugueses na China em meados do século XVI, as descrições pejorativas não podem ser tomadas apenas como “preconceitos identitários”, mas sim, e acima de tudo, como “racismo”. Para Francisco Bethencourt, racismo é todo “preconceito em relação à ascendência étnica combinado com ação discriminatória” (BETHENCOURT, 2018, p. 21). O historiador português defende que, no geral, estas “ações” de que fala são motivadas por “projetos políticos” (2018, p. 22). Para aplicar este conceito às fontes aqui empregadas, ver-se-á que tanto o comerciante Galiote Pereira quanto o Padre Mestre Belchior, por conseguinte, desenvolveram preconceitos em relação à ascendência étnica do chineses, tendo por base intenções puramente políticas, econômicas ou sociais, quer pela subjugação militar de cidades costeiras, ou através da conversão religiosa da China, algo que corrobora a tese de Bethencourt de que os preconceitos são “sempre relacionais” (2018, p. 92).
Por se trabalhar com descrições a caráter, optou-se por “privilegiar” o emprego metodológico da “hermenêutica” de Rüsen, tal como o historiador alemão a propõe, embora esta jamais se encontre em sua forma “pura”, isto é, dissociada dos outros dois pilares que compõe a pesquisa histórica: a “analítica” e a “dialética”. Em linhas gerais, a hermenêutica busca compreender o passado “quando se interpreta os fatos à luz dos significados que lhes foram atribuídos na forma de objetivações culturais das intenções humanas” (RÜSEN, 2007, p. 137). Ou seja, a reconstrução de eventos históricos, por meio dos enunciados, procura acompanhar as intenções de quem produziu o documento (fonte histórica), revisitando os fatos a partir dos sentidos, interpretações e juízos de valor que lhe foram atribuídos por quem os relatou. No caso das fontes aqui empregadas, cabe identificar quais eram as intenções de Galiote Pereira e do P. Mestre Belchior para com a China, que perspectivas tinham do Império Celestial, bem como os projetos e medidas planejadas por eles para o território chinês. Todas estas questões encontram-se expostas em suas descrições, onde o racismo mostra-se evidente na justificação de tais políticas.
O fascínio português diante dos chineses
Durante boa parte do século XVI, a postura portuguesa diante da China era marcada por expressões de assombro e admiração. Muito embora as expectativas destes europeus tenham sido frustradas pela burocracia da Dinastia Ming, manifestações elogiosas para com o Império do Meio permaneceram, até o fim dos quinhentos, com força na cultura escrita ibérica. Para Serge Gruzinski, os portugueses eram muito espontâneos na vida prática e não tinham problemas em deixar transparecer certa “sinceridade”: “Sabem espantar-se quando é o caso, e, se as paragens ou as situações que vivem são suficientes para provocar-lhes surpresa, raramente encontraremos indícios de embaraço ou de desorientação” (GRUZINSKI, 2015, P. 114).
É o que encontramos, principalmente, no relato de Galiote Pereira. “Soldado-mercador” nas paragens lusitanas do Oriente, fora preso na China em 1549, junto com cerca de trinta portugueses que estavam a bordo de dois juncos pertencentes a Diogo Pereira. Após um período   encarcerado na província de Fujian, foi condenado ao exílio nas terras de Guangxi, onde permaneceu, com alguns de seus colegas, até 1552, quando conseguiu escapar e retornar para a Índia. Livre do cativeiro, entre 1553 e 1560 tomou as primeiras notas de seu “Tratado sobre a China”, que ficaria mais conhecido como “Algumas coisas sabidas da China”, título este que lhe deram os jesuítas de Goa, ao enviar uma cópia do documento para Roma, em 1561 (PEREIRA, LOUREIRO, 1992, p. 9-10).
Neste “Tratado”, Galiote não esconde o seu fascínio pelos chineses. Após descrever a estrutura do governo autóctone, o comerciante conclui: “E desta maneira anda tudo tanto a direito que se pode com verdade dizer que é a terra melhor regida que se pode haver em todo o mundo” (PEREIRA, LOUREIRO, 1992, p. 17). Para o português, muito desta boa regência do Império Celestial é derivada de sua noção de justiça, que inclusive chegaria a transcender à praticada pelos romanos, em um claro sinal de reconhecimento, por parte de Pereira, da superioridade chinesa frente aos europeus neste aspecto: “De maneira que estes homens são únicos no fazer de suas justiças, mais do que foram os romanos nem outro nenhum gênero de gente” (1992, p. 32).
Em relação à cortesia na China, Galiote Pereira deixa transparecer a profunda polidez de seu povo ou, pelo menos, de suas classes dirigentes, com que entrou em contato com maior frequência durante o tempo em que ficou exilado. Os portugueses e seus escravos, aliás, quer para os grandes mandarins ou para os membros da família real, eram uma atração interessante, tal como demonstra este trecho em que relata os convites aos banquetes, por parte dos parentes do Imperador em Guangxi, aos exilados ibéricos: “É gente muito aprazível, corteses, bem ensinados […].  Levavam-nos a suas casas a comer e beber. E quando não queríamos ou não nos achavam, levavam os nossos negros, que assentavam consigo à mesa” (1992, p. 52).  
De fato, os costumes corteses dos chineses muito impressionou Galiote Pereira. Admirado com o que via da conduta dos mandarins, o português escreveu: “E assim no comer como em tratarem uns com os outros são homens de muito primor nas cortesias, e nisto parece que ganham a todo o gênero de nações” (1992, p. 52). Ao dizer isso, Pereira admitia a “superioridade” das classes dirigentes autóctones diante de suas equivalentes europeias. Para ele, os chineses não tinham muito com o que se admirar dos ibéricos, algo que foi constatado por muitos dos agentes históricos que escreveram sobre a China no período: “E da mesma maneira em seu trato, segundo seu costume, são tão atilados que ganham a todo o gentio e mouro e têm pouca razão de nos haver inveja” (1992, p. 52-53).
Se, do ponto de vista da política, da justiça e dos hábitos corteses, os chineses a todos superavam, o mesmo se podia dizer da cultura material e da infraestrutura por eles produzidas em ambiente urbano. No que diz respeito às embarcações navais chinesas, Pereira ficou espantado ao ver o luxo e a riqueza de seus navios, grandes ou pequenos. Certamente lembrou-se dos equivalentes europeus do período (caravelas e galeões) que eram, não obstante, velhos, sujos e infestados de ratos, constantemente bombeados para evitar que afundassem em mar aberto, algo que não acontecia com os juncos ou paraus utilizados pelos chineses: “E querendo nós ver estas embarcações entramos dentro em algumas, e víamos que tinham câmaras forradas com leitos dourados muito ricos, e outras com mesas e cadeiras, e cozinhas, e tudo tão limpo e em tanta perfeição que nos fez espantar em extremo” (1992, p.46).
Em relação à engenharia e estrutura urbana, os chineses em muito suplantavam as outras “nações” do mundo e, por conseguinte, o próprio Portugal. Sobre as estradas e os calçamentos do Império Celestial, o comerciante diz: “A maneira dos caminhos são todos calçados de esquadria em extremo bem-feita […]. As quais coisas nós vendo, julgávamos não haver no mundo edificadores como os chins” (1992, p. 18-19). O mesmo fascínio está presente na descrição das pontes autóctones, tidas em muito estima tanto pela qualidade e beleza das construções, quanto pelo seu enorme número, visto que a China, em boa parte de seu território, é uma terra lavrada por extensos rios caudalosos. Sobre uma ponte da província de Fujian, Pereira escreve: “E de uma banda e da outra os peitoris de toda a obra de imaginária é romana, por tão singular modo e maneira que nos fez espantar” (1992, p. 19).
Em resumo, toda a descrição que faz Galiote Pereira pode ser categorizada em uma única constatação. Ao espantar-se com a criatividade dos chineses, o mercador lança um olhar sobre si próprio e diz: “porque eles fazem tudo por engenho e nós por força” (1992, p. 20). Esta mesma opinião é compartilhada pelo Padre Mestre Belchior. Ao sair de Malaca com destino ao Japão e após várias dificuldades com ataques de piratas, tempestades e embarcações quase fundeadas, o religioso vê-se obrigado a passar o inverno na ilha de Lampacau, na costa da China. De lá, a 23 de novembro de 1555, escreve uma carta aos companheiros de Goa, em que descreve brevemente os hábitos dos chineses. Com fins meramente expositivos, seu texto, que fora publicado com a grafia original, recebe neste artigo uma modernização, mantendo-se preservados o sentido, a coesão e a fidelidade.
Em linhas gerais, Mestre Belchior concorda com Galiote Pereira. Em relação à criatividade dos chineses, diz o Padre: “Tem esta gente o mais singular engenho de mãos, que me parece que não há outra nação de maior” (D’INTINO, 1989, p. 139). O mesmo se dá com os modos de governo do Império Celestial, algo que muito impressionou o religioso português pela aparente pacifismo interno, principalmente no que diz respeito às relações entre governantes e governados: “É a gente regida com tão grande paz, assim nos que regem como nos que são regidos, que não se vê arma [...]. Eu me espanto do sossego com que regem a terra […]” (1989, p. 140). Por fim, sendo um homem de igreja, Belchior até reconhece uma alteridade positiva para com os chineses, e o fascínio seria muito maior, caso os autóctones fossem evangelizados: “É esta gente dos Chins, ao que dela pude alcançar, de muito bom entendimento, e mais o seriam se fosses cristãos [...]” (1989, p. 142).
Racismos e projetos políticos
São justamente nas questões religiosas, todavia, em que se alicerçam as formas discriminatórias de racismo dos portugueses para com os chineses. Para Serge Gruzinski, “são [as] distâncias espetaculares, todas de caráter religioso, que provocam entre os invasores as mais fortes reações de repulsa” (GRUZINSKI, 2015, p. 120). De fato, há de se levar em conta que “a estupefação diante do imprevisto acarreta uma brusca tomada de consciência, e esta se opera por um retorno sobre si mesmo, isto é, sobre o visto ou sobre o conhecido” (2015, p. 114). Isto significa que, mesmo que os portugueses manifestassem um claro fascínio diante dos chineses e de seus feitos, a necessidade de legitimar a própria identidade, diante de um “outro” aparentemente “superior”, torna-se urgente e, neste caso, movida por objetivos políticos. Ainda de acordo com Gruzinski, desde a Idade Média e até o fim da modernidade, fora a diferença religiosa, para os ibéricos, o principal fator para a construção da distinção entre os cristãos e os demais povos, sendo que estes últimos eram, invariavelmente, considerados bárbaros ou gentios, pois estavam destituídos da fé católica (2015, p. 114). Isto fica evidente nos relatos de Galiote Pereira e do Padre Mestre Belchior.
Para o comerciante, “têm mais estes chins serem em extremo grandes idólatras, e o que geralmente todos adoram é o céu [...]” (PEREIRA, LOUREIRO, 1992, p. 26). Mesmo que em relação aos cultos budistas, a repulsa é idêntica. Ao entrar em um templo desta religião, Pereira não esconde seu desagrado com a figura de Buda, personificando-a com o que há de mais desagradável em sua própria crença cristã: “E logo à mão direita o diabo, muito mais feio do que o [que] nós pintamos [...]” (1992, p. 27). Esta nomeação da alteridade negativa, em um primeiro momento, passaria apenas por uma manifestação dos preconceitos etnocêntricos europeus, ligados às questões identitárias. Logo em seguida, todavia, nota-se a existência de um projeto político de conversão religiosa, que caracteriza uma ação discriminatória contra os chineses e, por conseguinte, revela a existência de racismo. É o que planeja Galiote Pereira: “E dizíamos que vindo esta terra em algum tempo a estar corrente connosco era com pouco trabalho toda convertida” (1992, p. 28).
Mas as ambições portuguesas não permaneceram apenas na esfera religiosa. Há a intenção, por parte do comerciante, em tomar por força parte do território chinês. Esta, aliás, não seria uma empreitada difícil, pois a fraqueza do inimigo é evidente: “E contanto são tamanhas as cidades como digo, é a gente tão fraca, posto que seja sem número, que com muito pouco se podia nesta terra em muito pouco tempo fazer muito serviço a Deus e a el-rei nosso senhor” (1992, p. 39). Ou seja, as pretensões de conquista militar estão presentes em Galiote Pereira, pois além de servir a Deus (sob a ótica da conversão), a China proporcionaria muitas vantagens ao Rei de Portugal, visto que os chineses, por serem fracos, seriam facilmente subjugados. Aliás, ainda que mantenha uma visão bem positiva dos chineses e de sua civilização, o comerciante é enfático ao nomear qual dos povos deve ser dominante nas relações entre ambos, pois “claro está que não se pode pôr um cristão a servir um gentio” (1992, p. 33).
“Idólatras, fracos e gentios”, os chineses, ainda que engenhosos, corteses e justos, estão em um nível civilizacional inferior em relação aos portugueses. Portanto, são vítimas de ações  discriminatórias que buscam ou convertê-los à fé cristã, ou subjugá-los militarmente em suas terras. A distribuição, por parte dos ibéricos, de características identitárias negativas aos chineses (idólatras, fracos, gentios), é essencial para a justificação dos projetos políticos a serem tomados (conversão das gentes, conquista armada), algo que, para Francisco Bethencourt, é um caso claro de racismo. O Padre Mestre Belchior, inclusive, no que diz respeito às intenções religiosas dos portugueses, faz um diagnóstico de ações a serem tomadas no Império Celestial: “[D]o que tenho experimentado da terra, dois caminhos me parece[m] que há, para a conversão dela […]” (D’INTINO, 1989, p. 141).
O primeiro deles, não obstante, é “negociar com que venha embaixador ao reino, para assentar as pazes entre eles e nós, e entrarem os padres da Companhia com o embaixador para poderem ir aonde está o Rei [...]” (1989, p. 141). Para o jesuíta, o encontro com o Imperador, em Beijing, seria de fundamental importância para as pretensões desta Ordem na China, pois é através da “diplomacia” que os padres solicitariam permissões para construírem igrejas e pregarem o Evangelho em terras da Dinastia Ming, além de buscarem o apoio do Filho do Céu para que este legitimasse a atividade missionária frente aos seus mandarins e súditos, de modo que a conversão dos “gentios” se desse por livre e espontânea vontade, sem as repreensões, barreiras ou violências do mandarinato.
O segundo caminho, por sua vez, seria mais incômodo, embora planejado. Consiste em “[...] se entrarem dois padres dos da Companhia em Cantão com dois ginbacas (jurubaças, intérpretes), e quando se partirem as naus, deixarem-se ficar a risco das canas e começarem a pregar a santíssima fé, assim nas praças como nas casas [...]” (1989, p. 142). O objetivo é simples: ainda que sofram “martírios” das autoridades locais, como açoites, prisões ou mesmo a morte, o Evangelho seria semeado e, com grande fé e esperança, renderia frutos à graça de Deus. Todo este “sacrifício” dos jesuítas, todavia, eram necessários não só para os ibéricos, mas também para os autóctones.
Em uma analogia ao “resgate” dos índios na América Portuguesa, onde a intenção oficial dos Padres era a de livrá-los de si mesmos e da barbárie em que viviam, com a civilização da China algo similar aconteceria. Ao descrever os chineses, Mestre Belchior justifica, ainda que indiretamente, a necessidade da conversão destes “gentios”: "[...] tem muito engenho de comprar e vender, e [n]o que cumpre à sustentação da vida temporal são mui hábeis, mas para o negócio da alma nunca vi gente tão cega" (1989, p. 142).
Considerações Finais
Procurou-se observar, durante este pequeno artigo, que dentro das manifestações discursivas da cultura escrita de uma época, as passagens em que denotam uma postura elogiosa e de fascínio para com o “outro”, não obstante, podem coexistir com alegações claras de racismo. De fato, as teorizações do historiador Francisco Bethencourt sobre o tema, todavia, em muito auxiliaram no entendimento e na identificação de posturas discriminatórias, com base nas diferenças étnicas entre os povos envolvidos. No caso aqui estudado notou-se que, muito embora os portugueses de meados do século XVI declarassem uma admiração congênita para com os chineses da Dinastia Ming e sua tradicional civilização, a existência de projetos políticos claros (seja pela conversão religiosa da China ou por sua conquista militar), justificados por preconceitos de ascendência étnica ou moral, caracterizaram ações discriminatórias próprias, que podem ser categorizadas, conceitual e metodologicamente, como “racismo”. Entender a historicidade deste fenômeno, por sua vez, corrobora o posicionamento emergente de que o “fator” racismo sempre existiu, ao longo da história, no seio das civilizações humanas, não sendo  apenas um produto epistêmico do século XIX, como alguns querem acreditar.
Referências
Luis Fernando Masiero é graduando do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual do Paraná, campus de União da Vitória.
Fontes
BELCHIOR, Mestre. S. J. Copia de hua carta que escreveo o P.' Mestre Belchior, de Macau, porto da China, aos Irmãos do collegio de Goa, escrita a 23 de Novembro de 1555. p. 131-145. In: D’INTINO, Raffaella. Enformação das Cousas da China: textos do século XVI. Viseu, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1989.
PEREIRA, Galiote; LOUREIRO, Rui Manuel. Algumas cousas sabidas da China. Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1992.
Bibliografia
BETHENCOURT, Francisco. Racismos: Das cruzadas ao século XX. São Paulo, Companhia das Letras, 2018.
GRUZINSKI, Serge. A águia e o dragão: ambições europeias e mundialização no século XVI. São Paulo, Companhia das Letras, 2015.
RÜSEN, Jörn. Como dar sentido ao passado: questões relevantes de meta-história. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, v. 2, n. 2, p. 163-209, 2009.
RÜSEN, Jörn. Reconstroção do passado: Teoria da História II: os princípios da pesquisa histórica. Brasília, Editora UnB, 2007. 

9 comentários:

  1. olá, como você bem falou estes aparentes "elogios" dos portugueses para com os chineses é carregada de discriminações, que como bem destacou não são frutos de seculos recentes, mas que é presente na nossa sociedade. Neste sentido, como os professores da educação básica podem se utilizar desta temática em sala de aula?

    Lorena Raimunda Luiz

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    1. Bom dia, Lorena! Muito obrigado pela sua pergunta!

      Então, como bolsista do PIBID, tenho alguma experiência com as séries dos anos finais da educação básica. A sua questão é muito interessante. Em primeiro lugar, acredito que esta temática pode se encaixar nas próprias aulas de Brasil do período colonial. Brasil e China (Macau) fizeram parte de um mesmo Império ao longo dos séculos. Em que pese as diferenças no tipo de colonização, se há um traço característico presente em ambos os lugares, este é o racismo enraizado dos portugueses. Há um historiador que gosto muito, chamado Diogo Ramada Curto. O autor defende a ideia de que "o racismo é o modo português de se estar nos trópicos". Não importa se estivessem no Brasil, em Angola, na Índia ou na China: por onde quer que os portugueses passaram, eles justificaram todas as suas políticas predatórias com o racismo. Este seria um bom gancho para trabalhar esta temática com os alunos em sala de aula. Um outro meio de levar a temática para a sala de aula é a escravidão. Se aqui no Brasil os senhores utilizavam-se de africanos escravizados para todos os trabalhos, na Índia e na China os portugueses faziam cativos Indianos, Malaios, Timorenses e Chineses, todos estes também considerados "negros" ou "moços de serviço", uma prática claramente racista.

      Espero ter respondido a sua pergunta!
      Ass: Luis Fernando Masiero

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  2. Ola, boa noite, muito bom seu texto. Você acha q essa contradição de os portugueses verem os chineses com certa admiração, mas mesmo assim os verem como inferior, tem o fator principal dos chineses não serem cristãos?
    Gilberto Carlos Rosalino

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Olá Gilberto, bom dia!

      Sim, a principal razão da inferioridade dos chineses, do ponto de vista dos portugueses, era o fato de que os chineses não eram cristãos. Ao longo da Idade Média e mesmo na modernidade ibérica, "ser cristão" era sinônimo de "ser civilizado". Havia um consenso, entre os Ibéricos, de que existiam apenas três "tipos" de povos no mundo: Os cristãos, os mouros e os gentios, sendo que estes dois últimos eram considerados como bárbaros. Mas, como vimos no artigo, a falta da fé cristã não foi o único motivo para a discriminação dos chineses pelos portugueses. Interesses políticos e econômicos também tiveram uma parte crucial neste processo.

      Muito obrigado pela sua pergunta, espero ter-lhe respondido bem.

      Ass: Luis Fernando Masiero

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  3. Gleidson Fernando Rocha dos Santos8 de agosto de 2019 às 19:24

    Em primeiro lugar quero lhe parabenizar pelo texto Luis Fernando, muito interessante. Em segundo me parece difícil está definição "neutra" de etnocentrismo de Jörn Rüsen se dá na prática como sinônimo de identidade de um grupo humano, pois em casos concretos na história o que vemos é está "identidade" sendo usada para resistir ao julgo do outro ou usada para tentar impor seus valores a outros, ao menos foi assim que se deu com a expassão europeia pelo mundo, que desde seu início foi ligada a um projeto político claro de dominação e está realidade é que está ligada históricamente a definição de etnocentrismo e racismo.

    Concordo que o racismo não nasce no século XIX, com o Darwinismo Social, no entanto me parece que o racismo ganha uma dimenssão nunca antes vista a partir do mercantilismo e seu projeto político colonial a partir do século XVI, inicialmente legitimado pela igreja e posteriormente pela pseudo ciência.


    Gleidson Fernando Rocha dos Santos

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    1. Bom dia, Gleidson, obrigado pelos elogios e pelo comentário!

      De fato, não me parece que esta definição de Rüsen, sobre o etnocentrismo, seja neutra, mas concordo contigo de que as noções de identidade sempre foram usadas, ao longo do tempo, como pressupostos para projetos políticos e subjugação do outro "bárbaro", pois este "outro", não importa em que tempo, espaço ou contexto, "quase" sempre é visto como inferior. A questão é dar o passo adiante, ou seja, utilizar-se dessa suposta noção "supremacista" de etnocentrismo ou identidade para subjugar os "inferiores", e sempre que isto acontecer, nota-se o racismo.

      Concordo absolutamente contigo quando você diz que o racismo ganha dimensões estratosféricas a partir das incursões coloniais europeias do XVI. Todavia, sua existência enquanto fenômeno social é muito mais antiga. Há uma socióloga espanhola, Laura Escudero Zabala, que defende a ideia de que a xenofobia é uma forma de racismo. Se aceitarmos este posicionamento, então o racismo pode ser datado desde os primórdios da humanidade.

      Obrigado novamente pelo seu comentário!
      Ass: Luis Fernando Masiero

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  4. Parabéns Luis! Abordagens assim precisam cada vez ser mais enfatizadas, pois os interesses econômicos da Europa não estiveram apenas voltados para as Américas ou a África, a Ásia também esteve neste visionismo europeu. Sua produção nos proporciona o entendimento de que os fatores religiosos eram carregados nada mais nada menos de que por interesses de econômicos e apropriação de territórios, estudando história podemos identificar esse "espírito" presente nos interesses do homem da Europa - culminando assim em um etnocentrismo e um eurocentrismo forte. Mediante a isto, o que você identifica no processo de resistência dos chineses que não deixaram/possibilitaram uma colonização por parte dos portugueses assim como ocorrida nas Américas?

    Cláudia Marques de Oliveira

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    1. Bom dia, Cláudia! Fico muito feliz pelos elogios e pelo seu comentário!

      É interessantíssima a sua pergunta! Acredito que o principal fator que evitou a colonização da China pelos portugueses, ou demais europeus, fora a sua política protecionista na defesa do território e no trato com os estrangeiros. Todos os europeus que vinham até a China para comercializar ou tentar relações diplomáticas, não obstante, eram tratados com desdém ou simplesmente como bárbaros do além-mar. Além disso, a China sempre teve um sistema de governo muito bem organizado e extenso, com regras e leis que dificultavam, e mesmo impossibilitavam, qualquer tentativa mais "ousada" de estrangeiros em suas terras. O controle das fronteiras marítimas, por sua vez, era forte, rigoroso e eficiente, e a própria sociedade chinesa, culturalmente falando, era organizada demais para ter sua soberania subjugada por qualquer estrangeiro. Tanto que, mesmo quando a China caiu ou para os mongóis, ou para os manchus, estes invasores, para governar a China, tiveram que manter as práticas e os costumes chineses, caso contrário, o Império seria ingovernável.

      Agradeço novamente pela sua participação!
      Ass: Luis Fernando Masiero.

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