O MUNDO
DA FLOR E DO SALGUEIRO: ANÁLISES E DISCUSSÕES SOBRE A ASSOCIAÇÃO DAS GUEIXAS À
PROSTITUIÇÃO
André
Campos
Introdução
“O karyukai ou o "mundo da flor e do salgueiro"
refere-se ao ambiente de elegância, cultura e artes nas quais a gueixa vive,
"... toda gueixa é essencialmente bela, como uma flor e, ao mesmo tempo,
elegante, flexível e forte, como um salgueiro " (Iwasaki, 2002).
A cultura milenar do Japão sempre chamou a atenção dos
ocidentais, sobretudo no que diz respeito ao seu idioma, alimentação, religião,
costumes, vestuário e música. No entanto, em meio a este cenário surge uma
figura de quimono em cores pastéis, sobrancelhas em tons de preto e vermelho e
os lábios pintados em forma de coração carmim. É impossível ler esta descrição
e não a associar as emblemáticas e misteriosas gueixas que até hoje caminham,
mesmo que em menor número, nos “Hanamachi” (literalmente, “cidade das flores”,
distritos históricos do Japão, onde concentram-se o maior número de gueixas).
Mas quem seriam as gueixas? Seriam elas prostitutas?
Acompanhantes? Ou cortesãs? A resposta para essa pergunta pode ser encontrada
no substantivo que as define. A palavra gueixa é composta por dois kanji “gei”
(芸) que significa “arte” ou “técnica”, e
“sha” (者) que significa “pessoa” ou
“praticante”, ou seja, a palavra “gueixa” pode ser traduzida literalmente como
“Pessoa da arte”, “pessoa que vive das artes”, “artista” ou “artesã”, ou seja,
as gueixas são mulheres que estudam intensamente as tradições milenares da arte
do canto, dança, entre outras. Vendendo suas habilidades e não essencialmente
seu corpo, como por exemplo ocorria com as oirans, cortesãs japonesas da alta
classe que eram procuradas por oferecerem os mais variados tipos de
entretenimento, principalmente o sexual.
Muito especula-se sobre quando as gueixas surgiram, porém há
um consenso que diz que foi no período Heian (794 – 1185 d.C) quando notam-se
as primeiras condições que modelariam as gueixas tradicionais, mas é somente em
1750 que emergirá a primeira gueixa mais famosa e popular, Fukagawa, uma
ex-prostituta que possuía grandes habilidades na arte do canto e no tocar do
shamisen (instrumento de cordas tradicional japonês). Após a ascensão de
Fukagawa, muitas mulheres abandonaram suas vidas como prostitutas e seguindo
seu exemplo dedicaram-se ao estudo na tradição do canto, dança, música, poesia
e entre outras coisas.
Para muitos dos ocidentais, as gueixas tornaram-se, um
“cartão-postal” da “exótica” cultura japonesa, mas de onde veio esta associação
com prostitutas ou cortesãs?
Desenvolvimento
e problematização
Não podemos determinar que tal imagem provenha de uma única
influência, pois como nós historiadores bem sabemos leva-se tempo para que
certos estereótipos e preconceitos venham a ser construídos e por fim
enraizados. Por conta disso, torna-se necessário reafirmar que o sexo nunca fui
uma das atividades fundamentais das gueixas, muito menos uma atividade
obrigatória, outrora haviam certos momentos onde tais mulheres eram obrigadas a
prestar serviços sexuais, como por exemplo no leilão de seu mizuage
(literalmente “elevação da água”), onde a jovem maiko (literalmente “pequena
dançarina”, são aprendizes de gueixas) deveria ser deflorada para assim
tornar-se uma gueixa. Tal prática foi abolida em 1959, porém infelizmente ainda
acontece clandestinamente.
A imagem da gueixa sempre foi essencialmente difundida em
nossa cultura através da literatura e indústria cinematográfica, como por
exemplo no livro/filme: “Memórias de Uma Gueixa" de Arthur Golden, que pode
ser considerado um dos principais meios ao qual temos acesso à esta figura,
porém vale ressaltar que tal filme não foi muito bem recebido pela critica
oriental, sendo considerado “filme para inglês ver”, por sofrer diversos
anacronismos, a erotização da imagem da gueixa e de certo modo a equiparação da
tradicional vestimenta das gueixas à das oirans. No entanto, o filme como um
todo não pode ser considerado como ruim, pois ainda carrega certo cunho de
veracidade, como por exemplo nas cenas em que se passa a ocupação estadunidense
no Japão, onde pode ser visto como se deu a “ocidentalização” dos japoneses,
principalmente em meios as gueixas, onde grande parte viu-se obrigada a se
prostituir para garantir sua sobrevivência.
Por muito tempo as gueixas foram vistas entre os japoneses
como mulheres cultas e bem treinadas, sobretudo entre as próprias esposas, como
pode ser exemplificado na citação abaixo:
“Muitas mulheres japonesas estão cientes de sua posição como
esposas na frente das gueixas. Elas vêem a diferença em termos de
complementaridade, como uma divisão feminina do trabalho, onde nenhum deles
precisa ser ciumento porque uma identidade não se sobrepõe à outra.” (Dalby
citada por Gómez, 2013, tradução nossa.)
No entanto, após um fato que o “Memórias de uma gueixa”
exemplifica com muita clareza, onde um importante servidor do exército
estadunidense pergunta a uma gueixa “quanto custava” para ele ter um momento
mais íntimo com ela, deste modo o filme retrata de forma tão realista fatores
que acabaram por modificar completamente as condições das gueixas. Tais
mudanças ocorreram no mundo pós-Segunda Guerra Mundial, mais exatamente durante
a ocupação estadunidense, neste momento, infelizmente a imagem das gueixas como
prostitutas finalmente foi legitimada na mentalidade ocidental. Outro fato que
também contribuiu para tal associação ocorreu neste mesmo período, com o
surgimento das “Geisha Girls” (literalmente “garotas gueixas”) que eram
prostitutas que vestiam-se conforme os padrões das gueixas tradicionais, porém
sem o mínimo de treinamento das tradições,
atraíam os militares estadunidenses, e como estes estrangeiros não
possuíam conhecimento a respeito dos costumes e tradições das gueixas,
tornava-se quase impossível diferenciá-las das verdadeiras gueixas.
“Mas elas leiloavam a virgindade, isso não é ser
prostituta?.”, alguém poderia dizer, porém vale ressaltar que as gueixas
surgiram em um período antes da “ocidentalização” do Oriente, ou seja, para que
possamos compreender os motivos que levavam-nas a esta prática, torna-se
necessário que adentremos no imaginário japonês daquele período. Como já
mencionado anteriormente o “mizuage” ou “o ritual de defloração” era uma
prática comum entre as gueixas, onde a jovem maiko leiloava sua virgindade para
homens específicos escolhidos pela “okasan” (literalmente mãe, era a dona das
“casas de gueixas”), todo dinheiro adquirido no leilão seria investido na
estreia da maiko como uma gueixa
completa. Alguns historiadores e antropólogos especulam que o leilão da
virgindade entre as gueixas, poderia assemelhar-se ao costume ocidental da
festa da debutante, onde as moças de quinze anos deixam de ser meninas e passam
a ser mulheres. No entanto, outros defendem que para os japoneses, as gueixas
não seriam tão somente mulheres que os entretém, mas também um “modelo ideal de
esposa”, em outras palavras, na mentalidade japonesa a “esposa ideal” não
deveria tão somente ser educada nas tradições ou ser uma mulher culta, mas
também possuir conhecimento e experiências no entretenimento sexual. Algo que
difere de grande parte dos povos ocidentais que priorizam a virgindade.
Conclusão
Uma gueixa é uma profissional da tradição e das artes
japonesas. Tal fato pode ser afirmado, pois a partir de 1779, o governo japonês
reconheceu a gueixa como uma profissão diferindo-as das prostitutas. Outro
fator que evidencia o fato de a gueixa não ser uma prostituta é: "... o
fato de que a prostituição legal foi abolida em 1957, mas as gueixas não foram
mencionadas, basicamente indica que as gueixas não são prostitutas" (Dalby
citada por Gómez, 2008, tradução nossa.). O único costume das gueixas que foi
abolido pela lei antiprostituição foi o “ritual do mizuage”.
Por conta do pacto de silêncio entre as gueixas e o nível de
desconhecimento dos demais povos com relação as tradições e cultura do Japão,
tais povos, como por exemplo os estadunidenses, levaram uma imagem deturpada
das gueixas equiparando-as a prostitutas, acompanhantes ou cortesãs. Sob o
olhar da antropologia cultura, a gueixa é uma tradição valiosa, sendo
considerada uma expressão cultural, onde tradições milenares são transmitidas
entre as gerações. A tradição das gueixas devem ser mantidas vivas, pois
segundo a Unesco, o patrimônio cultural imaterial é um fator importante na
manutenção da diversidade cultural em face da crescente globalização e a
importância do patrimônio cultural imaterial não está na própria manifestação
cultural, mas no conjunto de conhecimentos e técnicas que são transmitidos de
geração em geração.
Durante a ocidentalização e “modernização” do Japão, muitos
costumes e tradições milenares foram abolidas por serem consideradas
constrangimento aos ocidentais, como por exemplo o “ohaguro” (técnica de pintar
os dentes de preto) e a poligamia, no entanto as gueixas não somente permaneceram
intocadas, como também foram reconhecidas pelo governo como símbolo da mais
bela tradição japonesa.
Mineko Iwasaki, foi uma das gueixas mais famosas do mundo,
inclusive sendo uma das gueixas que foram entrevistadas por Arthur Golden para
a escrita de seu livro já citado: “Memórias de uma gueixa”. Após um
desentendimento com Golden, por conta de ele ter por muita das vezes mencionado
seu nome, algo que deveria ser mantido em sigilo, já que as gueixas possuíam um
pacto de silêncio, Mineko buscou escrever sua própria biografia em parceria com
Rande Brown, ao qual nomeou como “Gueixa: Uma vida”. Por conta disso, nada mais
justo encerrarmos este texto com uma das mais belas definições do que é ser uma
gueixa, feita pela própria ex-gueixa: “Uma gueixa é uma artista, uma mulher
culta e disciplinada, treinada em música, dança, história, literatura, música,
poesia, etiqueta e cultura geral, que presta serviços de acompanhamento e
entretenimento em reuniões de negócios e eventos.” (Iwasaki, 2002).
Referências
André Luis Cordeiro Campos; (Graduando em História pela
UFMA)
BROWN, R, IWASAKI, M; Gueixa, uma vida: A Verdadeira
História de Mineko Iwasaki: Brasil: Editora Jbc, 2002.
GOLDEN, A. Memórias de Uma Gueixa. 1ª Ed. São Paulo, 2015.
Tradução: Lya Luft.
GÓMEZ. L. Profesión Geisha: Mitos y realidades. Mundo Asia
Pacifico, 2(3), 50-56, julho 2013.
André, gostei muito do seu trabalho, pois toca um dos assuntos mais tradicionais e interessantes da cultura japonesa. Gostaria que você falasse mais sobre as oirans, as tais cortesãs que, diferentemente das geishas, ofereciam serviços sexuais como uma das principais atividades realizadas para os seus clientes. Nunca tinha ouvido falar delas. Como você menciona rapidamente sobre as mesmas, não dando muitos detalhes, queria saber um pouco mais sobre estas mulheres que aparentavam ter considerável destaque em seu meio.
ResponderExcluirRonaldo Sobreira de Lima Júnior
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOlá, Ronaldo, agradeço muito por seu comentário.
ExcluirBom, a respeito das oirans é interessante citar que existem muitas semelhanças entre elas e a gueixas, desde a forma como elas se vestem, principalmente na maquiagem, até nos serviços que são prestados aos clientes, pois uma oiran também possui conhecimentos nas áreas da poesia, canto, instrumentos musicais, entre outras. Dentro da "sociedade" das oiran existem níveis hierárquicos, onde as características mais prezadas dentro dessa sociedade era o a beleza, não somente externa, mas de caráter também, e educação nas artes e culturas, mas como já dito a principal diferença entre uma oiran e uma gueixa é que enquanto a gueixa era treinada focando estritamente no lado artístico e cultural, a oiran era treinada para ter destreza e agilidade no entretenimento sexual.
Para finalizar, é interessante citar que por muito tempo as oirans estiveram dividindo espaço com as gueixas, e que ser uma oiran não era um trabalho mal visto, além de certo modo serem precursoras das gueixas tradicionais. Houveram muitas oirans que estiveram ao lado dos daimiô e até hoje é possível ver sua importância sendo destacada em desfiles e festas tradicionais. No fim, a oiran é uma personagem tão emblemática e interessante quanto a gueixa.
Olá André. De tantos assuntos desta mesa, o seu me chamou atenção por ser um conteúdo um tanto quanto exótico e que carrega muitos segredos que foram desvendados com exatidão por você. Minha dúvida é: como historiador, de onde veio seu interesse por estudar e pesquisar as gueixas? Me fale um pouco mais do seu interesse pessoal sobre este assunto.
ResponderExcluirNicole Loureiro da Silva
Olá, Nicole, tudo bem? Agradeço muito por sua pergunta e comentário.
ExcluirBom, desde muito jovem sempre nutri um grande apreço pela cultura japonesa. Meu primeiro contato com as gueixas, como muitos brasileiros, foi no filme "Memórias de Uma Gueixa", a forma como tal profissão foi representada naquele filme (ainda que de forma muito romantizada), somando isto ao interesse em história dos gêneros e história das mulheres que vim a desenvolver no primeiro período da faculdade e algumas inquietações, foi suficiente para que eu viesse a estudar mais a respeito dessa personagem tão emblemática da cultura japonesa, que infelizmente assim como muitos ofícios realizados por mulheres é tão injustiçado no Brasil e em grande parte do mundo.
Muito interessante seu trabalho André, gostaria de primeiro perguntar a você sua pesquisa foi além desta questão da gueixa ou será o tema central, de fato é magnifico sua abordagem. Gostaria de sugerir duas obras que possam ajudar em sua reflexão e na construção histórico do tema: "O tempo e espaço na cultura japonesa, Shuichi Kato" e "Corpos da Memória, Yoshikuni Igarashi"; creio que ambos serão de grande auxílio.
ResponderExcluirPor mim me restou uma dúvida final, durante a ocupação norte-americana o governo japonês introduz as "mulheres de conforto" para os soldados americanos - equivalente a prostituas. As gueixas faziam parte deste leque ou somente as "falsas gueixas" mencionadas no texto?
Douglas Tacone Pastrello
Olá,Douglas, tudo bem?
ExcluirAgradeço muito por seu comentário e sugestões de leitura, com certeza irei ler.
Pretendo me aprofundar mais no universo das gueixas, e se possível realizar a ambiciosa tarefa de compreender não somente como a sociedade japonesa enxerga e lida com as gueixas, mas como também elas próprias se enxergam e lidam com os preconceitos já cristalizados no imaginário social, tanto no Japão como no resto do mundo.
Quanto a segunda pergunta, durante esse período da ocupação estadunidense, houveram muitas gueixas que abandonaram seus "postos" como gueixas e buscaram outras formas de trabalho, muitas delas acabaram por prostituirem-se para sua própria sobrevivência. Retorno a citar o filme "Memórias de Uma Gueixa", pois este momento é retratado com louvor, sobretudo com a personagem Pumpkim, que para sobreviver durante ocupação estadunidense tornou-se uma prostituta, deixando de lado todo seu treinamento como gueixa.
Resumindo, dentre essas mulheres de conforto, provavelmente haviam ex-gueixas que se viram obrigadas a prostituir-se para sobreviverem.
Primeiro gostaria de te parabenizar pelo texto. Minha pergunta é a seguinte, as mulheres se tornavam gueixas porque dominavam diferentes técnicas artísticas ou se tornavam gueixas primeiro para depois aprenderem a arte? E também se esse ofício era/é algo passado de mãe para filha.
ResponderExcluir- Gabriela de Melo Vieira
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ExcluirOlá, Gabriela, tudo bem? Muito obrigado pelo comentário e pergunta!
ExcluirBom, para tornar-se uma gueixa existiam algumas formas, da qual citarei a mais comum: Nesta forma, caso houvesse alguma menina que residisse ou fosse levada a uma Okiya (Casa de gueixas) e fosse avaliada pela Okasan (uma espécie de mãe para as gueixas) como apta a iniciar o treinamento para tornar-se uma gueixa, ia para uma espécie de "escola para gueixas", onde assim aprenderia todas essas técnicas artísticas, tornando-se assim uma Maiko (uma gueixa em treinamento).
A respeito de ser uma tradição hereditária, ocorre o seguinte, caso uma gueixa decidisse envolver-se com alguém para além da profissão, ela deveria anunciar que estaria aposentando-se e haveria toda uma cerimônia de despedida, porém isso não impedia em nada que uma ex-gueixa treinasse sua filha para seguir este ofício, como por muito tempo ocorreu (e ainda ocorre) no Japão, pois muitas das gueixas receberam a tarefa de manter esta tradição viva.
André, parabéns pelo seu trabalho. É muito bom saber que os estudos de gênero (e com um recorte tão importante como o que você estabeleceu) estão na pauta das discussões. A partir do seu texto fiquei pensando como erroneamente, muitas vezes as gueixas são identificadas e ou lidas como prostitutas. Gostaria que você me dissesse um pouco mais a gênese desta interpretação. Mais uma vez parabéns pelo texto!
ResponderExcluirOlá, professora Marize! Agradeço muito por sua pergunta e todo o apoio.
ExcluirEsta interpretação da gueixa como uma prostituta ou um "tipo mais refinado" de prostituta deve-se a diversos fatores, aos quais eu gostaria de destacar dois:
Como já citado no texto, durante a ocupação estadunidense muitas gueixas viram-se obrigadas a deixar sua profissão em prol de sua sobrevivência, muitas delas acabaram por prostituir-se, além do fato das já citadas "Geisha Girls" que vestiam-se como gueixas apenas para atrair os soldados estadunidenses.
O segundo fator é que a sociedade é focada no patriarcado, onde não é dado a mulher o seu devido valor, podemos exemplificar isso em algumas discussões que houveram no período em que não havia um herdeiro homem na linha de sucessão ao trono de crisântemo e foi dito que o trono japonês estava condenado à ser tomado por uma mulher novamente.
Caso somemos estes dois fatores a uma mídia internacional esmagadora que infelizmente auxilia na divulgação da gueixa como uma prostituta, podemos perceber o motivo de tal interpretação.
André, primeiramente eu gostei muito do seu texto, parabéns.
ResponderExcluirDurante sua pesquisa houveram autores que utilizaram a categoria Yujo/Oiran para definir as gueixas? Pergunto isso pois além do livro ''Memórias de uma gueixa'' existem também mangás que apresentam uma ou outra categoria e muitas vezes são traduzidos da mesma forma.
Me parece o mal da ''americanização'' que simplifica os termos e usos durante o fim da Segunda Guerra.
Matheus Felipe
Olá, Matheus, tudo bem? Agradeço muito por sua pergunta!
ExcluirBom, de fato encontrei diversas "adaptações" para o oficio de uma gueixa dentro de livros, filmes e mangás. Você encontrará muito a tentativa de interpretar a gueixa como uma cortesã, uma servente ou até mesmo confundi-la com uma oiran. De fato, é um mal de americanização, não somente isto mas uma tentativa de ler e compreender o outro a partir de algo que já conhecemos. Em mangás que possuem gueixas como personagem é comum ver a tradução de "geisha" que seria literalmente pessoa da arte como uma cortesã.
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ResponderExcluirOlá André, parabéns por sua pesquisa! Achei o assunto extremamente pertinente e pontual dentro da academia. Neste sentido,a minha pergunta se direciona na disseminação do conhecimento extra muros acadêmicos. Assim, gostaria de saber de sua parte, quais maneiras seriam eficazes para compartilhar seu trabalho - de retirada do véu de esteriótipos sobre as geixas - com o público amplo, não envolvido com a didática a ademica.
ResponderExcluirAssinado: Nathalia Alcantara Camargo Pereira
Olá, Nathalia, tudo bem? Agradeço muito por sua pergunta! Para responder tal pergunta utilizaria minha experiência em sala de aula (pois sou graduando em licenciatura) enquanto pibidiano.
ExcluirA forma como as gueixas são (ou serão) abordadas além dos muros da universidade é uma grande problemática, pois infelizmente ainda vivemos um ensino de história muito eurocêntrico, onde não se há uma valorização da história dos demais continentes, como se eles não tivessem história. Antes de abordarmos sobre as gueixas, primeiramente devemos conquistar espaço no ensino da história do Japão, pois nós brasileiros temos mais contato com o Japão em nossa história do que sequer imaginamos.
A respeito de um público além de estudantes, é difícil, porém não é impossível, pois ou não há conhecimento sobre essas personagens históricas ou esse conhecimento é repleto de esteriótipos, então creio que seria viável começar a partir de interpretações e reflexões sobre "o que é tornar-se e ser uma gueixa", em seguida deveria trabalhar essas personagens através de filmes, mangás, livros, etc... sempre desmistificando os esteriótipos que são pertinentes mesmo em trabalhos de origem japonesa.
Olá André, parabéns pelo trabalho, é muito relevante o tema debatido. Contudo fiquei com uma dúvida final, em que momento uma jovem era enquadrada na sociedade como uma gueixa?
ResponderExcluirJosefa Robervania de Albuquerque Barbosa
Olá, Josefa, tudo bem? Agradeço muito pelo comentário e pergunta.
ExcluirBom, antes de se tornar uma gueixa, as jovens tornam-se "maikos", que seria uma gueixa em treinamento. A partir do momento em que a "Okasan" (uma espécie de mãe para as gueixas) a visse como apta, haveria todo um processo e no fim, a maiko deveria ceder sua virgindade ao seu danna ou caso não houvesse um, seria cedida aquele que pagasse mais. Esse ritual chama-se "Mizuage" e era um ponto importante para uma jovem que desejasse seguir o caminho de uma gueixa, pois significava deixar de ser uma maiko (menina) e se tornasse uma mulher (gueixa). Após a jovem ser deflorada, ela recebia um novo colarinho que enquanto maiko era vermelho e agora como gueixa é branco, além se ter seu penteado e maquiagem trocados. Após um tempo o dinheiro arrecadado no leilão era utilizado para a estreia dessa ex-maiko como uma gueixa.
No filme e livros "Memórias de uma gueixa" essa transição é descrita muito bem, ainda que de forma muito romantizada, mas vale muito a pena conferir.
Olá André, achei muito interessante o tema por você trabalhado, entretanto, gostaria de saber o que acontecia com as jovens que eram reprovadas no treinamento de gueixas?
ResponderExcluirAmando Silva de Lima Reinaldo
Olá, Armando, tudo bem? Muito obrigado pelo comentário e pergunta.
ExcluirBom, antes de tornar-se uma gueixa a jovem se tornava uma maiko, uma aprendiz de gueixa, caso a "okasan" (uma espécie de mãe para as gueixas) visse que essa jovem não estivesse apta para tornar-se uma gueixa haviam duas possibilidades: o treinamento seria encerrado, pois custava muito dinheiro para se "formar" uma gueixa ou o treinamento persistiria até que fosse vista como apta.
Recomendo muito o livro/filme "Memórias de Uma gueixa", pois a personagem teve seu treinamento encerrado por um tempo, pois era vista como um desperdício para a Okiya (casa de gueixas). Embora o filme seja muito romantizado, ainda assim vale muito a pena assistir.
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ResponderExcluirOlá André, tudo bem?
ResponderExcluirVocê já pensou em trabalhar com cultura visual de época e o impacto que isso teve no imaginário ocidental acerca das gueixas. Conheço pouco sobre tema, mas sei que em fins do século XIX houve muito interesse de europeus e estadunidenses em gravuras e fotografias que vendiam essas imagens estereotipadas, ocasionalmente produzidas pelos próprios japoneses para atender a uma clientela estrangeira. Teria sido esse um possível precedente histórico para os equívocos encorajados pelo cinema ocidental posteriormente?
Vilson A. M. Gonçalves
Olá, Vilson, tudo bem? Agradeço muito por seu comentário e perguntas.
ExcluirEm primeira instância eu pretendia trabalhar com a cultura visual, porém infelizmente o acervo brasileiro sobre a cultura japonesa referente às gueixas ainda é muito escasso e carece de muita coisa, mas talvez futuramente.
De fato, houveram muitos fatores que cooperaram para essa imagem equivocada da gueixa, e infelizmente o governo japonês cooperou muito para com isso, pois a partir do período em que se inicia o "projeto bunmei-kaika" (literalmente civilização iluminada), onde tradições milenares são abolidas em prol de não "assustar" os estrangeiros, com certeza muita coisa seria reinterpretada de acordo com o olhar do estrangeiro, sobretudo do estadunidense, pois como falei no texto é nesse período de ocupação que os esteriótipos começam a enraizar.
Olá André, quero lhe parabenizar pelo excelente texto, é bem interessante a leitura a forma leve como você intercala as informações indo direto ao ponto, em um assunto muito interessante do universo das gueixas. Bem André gostaria de lhe perguntar como as gueixas são vistas no oriente em dias atuais, se elas ainda continuam sendo ligadas a prostituição, é também se essas tais mulheres que são ligadas as artes possuíam restrições em suas vidas, se precisavam abdicar de muitas coisas da sociedade atual, para se tornar gueixas. Seria esses breves apontamentos mesmo, espero poder ler mais artigos seus, somando muito em minhas perspectivas, obrigada.
ResponderExcluir- Amanda Falcão
Olá Amanda, tudo bem? Agradeço muito pelo comentário e pergunta.
ExcluirEu não posso lhe afirmar com exatidão, mas durante a pesquisa tive a oportunidade de conversar com descendentes de japoneses e algo interessante que me foi dito foi que a gueixa sofre uma dualidade no pensamento japonês, ora ela é considerada um tipo de prostituta, ora ela é uma artista. Embora o governo já as tenha reconhecido como um patrimônio imaterial da cultura japonesa e como profissionais que não estão ligadas a prostituição, mas infelizmente ainda se tem esse pensamento dela como prostituta.
Sobre a segunda pergunta, ainda existem mulheres que mantém essa tradição viva. Há alguns anos atrás havia a estimativa de duas mil e quinhentas gueixas, porém o número vem diminuindo. Em Kyoto ainda é comum ver gueixas caminhando pelas ruas, pois ali existe uma grande valorização do passado, embora muitas dessas gueixas não sejam as tradicionais, pois com a modernização do Japão muitas das técnicas antigas foram deixadas de lado e produtos caseiros foram substituídos por produtos industriais, mas ainda assim a tradição persiste.
Parabéns pelo grande trabalho, André! Achei bastante interessante você ter explicado e desvinculado as gueixas da prostituição. De que forma você acha que essa ideia de prostituição entre as gueixas pode ser desconstruída no Ocidente? Você acha que esse pacto de silêncio piora essa situação?
ResponderExcluirEmanuelle Silva Fonseca
Olá, Emanuelle, tudo bem? Muito obrigado pelo comentário e pergunta.
ExcluirEssa desconstrução será muito difícil, porém não é impossível, pois o nosso ensino de história ainda é muito eurocêntrico e os demais continentes são deixados de lado. Creio que primeiramente deveríamos conquistar mais espaço para o ensino da História Oriental e em seguida investirmos na desconstrução da imagem da gueixa como prostituta.
Bom, o pacto de silêncio dificulta muito, pois sua existência impede que gueixas venham a publico combater esses esteriótipos, mas ainda assim vejo esse pacto como uma forma de resistência, pois independente do que seja dito a respeito delas, as gueixas erguem a cabeça e caminham de forma tão sublime pelos Hanamachi (distritos de gueixas).
Bem professor gostaria de esclarecer uma dúvida aqui no seu excelente texto o que leva as gueixas serem confundidas por prostitutas, seria pelo fato de serem mulheres e ter uma boa clientela de homens, o fato delas serem apenas mulheres já se ligaria automaticamente ao sexo, em uma visão depreciativa e machista ou seria também pela Fukagawa, uma ex-prostituta, essa primeira gueixa e as outras que tomam o seu exemplo, e buscam as artes como ocupação, mas apenas com o estado tomando as gueixas como profissão elas foram deixadas de serem vistas como prostitutas em 1779, ou ainda continuaram sendo ligadas a prostituição? Abraço, obrigada pela contribuição.
ResponderExcluir- Amanda Falcão
Olá, Amanda, tudo bem? Muito obrigado pelo comentário e pergunta.
ExcluirDiversos fatores cooperam para essa associação, de fato o machismo é uma das grandes frentes que impulsiona essa imagem. Creio que a Fukugawa não influencie tanto nessa imagem, pois com o tempo ela tornou-se uma personagem quase mitológica por entre as gueixas.
Embora o governo já as tenha reconhecido como não sendo prostitutas, ainda assim o peso do machismo somado com toda aquela carga do passado, onde gueixas viram-se obrigadas a se prostituir para sobreviverem, além das "geisha girls" que vestiam-se como gueixas para atraírem os soldados estadunidenses e tantos outros fatores, ainda assim pesam na mentalidade japonesa no que se refere às gueixas.
Pode-se observar pela leitura do texto que as gueixas detinham grande conhecimento das artes,da musica,do teatro. Mulheres que se destacavam além da beleza, pela sua erudição.Munidas de uma educação expressiva e valiosa embora muitas vezes sua imagem era ligada a um conceito de servidão sexual.Refletindo sobre esse contexto,gostaria de saber se as gueixas tinham o direito de casar-se,formar uma família sem perder sua titularidade?
ResponderExcluir(Hélido Veras Silva)
Olá Hélido, tudo bem? Muito obrigado pelo comentário e pergunta.
ExcluirEm suma uma gueixa não poderia envolver-se além do profissional com seus clientes, caso ela desejasse se envolver com alguém para além da profissão e formar uma família, ela deveria anunciar sua aposentadoria e toda uma cerimônia de despedida seria feita para que agora se torna-se uma "ex-gueixa".
Boa noite. Gostaria de entender melhor como se iniciaram as atividades das gueixas? Ou, como estava o Japão historicamente nesse contexto a ponto de inserir estas figuras femininas em sua teia sociocultural?
ResponderExcluirAtt.
Jessica
Boa noite, Jéssica! Muito obrigado pela pergunta.
ExcluirAs origens das gueixas ainda são um mistério, pois existem muitas teorias, neste trabalho em questão eu comentei a respeito da Fukugawa que teria sido a primeira grande gueixa, mas alguns estudiosos afirmam que a gueixa é uma versão feminina de uma espécie de "bobo da corte", o Taikomochi ou Hokan, inclusive existem muitas semelhanças entre elas e esse personagem, desde a maquiagem até seus afazeres.
Quanto a forma como foram inserida eu não sei lhe dizer com exatidão, pois comecei recentemente a pesquisa. Tudo o que posso é deduzir que desde o início a gueixa sofreu essa dualidade de interpretação, já que a sociedade japonesa sempre teve essa tendência à supervalorização do homem e interiorização da mulher.
Peço-lhe minhas sinceras desculpas, mas quem sabe futuramente em outro trabalho, eu não lhe traga uma resposta mais exata?
Boa noite André ! Adorei seu trabalho !!! Gostaria de saber diante dessa diminuição do número de gueixas se nunca foi discutido romper com esse pacto de silêncio entre elas para que essa tradição milenar não se perca .
ResponderExcluiratt
Beatriz Telles Estrella
Boa noite, Beatriz! Muito obrigado pelo comentário!
ExcluirCreio que por enquanto ainda não foi discutido a necessidade de rompimento desse pacto de silêncio para defender esta profissão. Me recordo de que após ser divulgado que a Mineko Iwasaki havia cooperado com o Golden na escrita do Memórias de uma gueixa, ela foi ameaçada por outras gueixas.
Boa noite André ! Gostaria de saber se como no filme "Memórias de uma Gueixa" quem se entregasse antes do ritual do Mizuage seria expulsa da Okiya como a personagem da Hatsumomo foi
ResponderExcluirAtt
Beatriz Telles Estrella
Olá Beatriz! Boa noite, muito obrigado pela pergunta.
ExcluirBom, isso dependia muito do quão valorizada era esta Okiya, das proporções que tal atitude resultaria e em como a Okasan iria lidar com isto, mas creio que em sua maioria acarretaria na expulsão da então maiko da Okiya.
Sebastião Vicente da Silva
ResponderExcluir08/08/2019
Muito interessante este artigo sobre as gueixas, pois realmente são tratadas como prostitutas, me restou uma pergunta referente aos homens de família japoneses, eles recorriam as artes das gueixas ou até mesmo busca de prazeres sem causar constrangimento a suas esposas.
Sebastião Vicente da Silva
Olá Sebastião, muito obrigado por seu comentário!
ExcluirNo período de auge das gueixas, as esposas japonesas consideravam-nas mulheres profissionais e como o envolvimento sexual era aparentemente quase nulo, não havia muito essa questão do constrangimento das esposas.
Boa noite, a leitura do trabalho despertou grande curiosidade sobre essa figura da "gueixa", tão peculiar da cultura japonesa. O livro mencionado do autor Arthur Golden realmente erotiza as gueixas, no entanto a minha dúvida é quais os locais ondem elas dedicam-se aos estudos da arte e do canto? E quem orienta esses estudos? Desde já agradeço a atenção.
ResponderExcluirCamilla Mariano
Olá Camilla, tudo bem? Muito obrigado pelo comentário e pergunta.
ExcluirBom, as maikos (aprendizes de gueixas) vivem na Okiya (Casa de gueixas), assim como as gueixas. Uma maiko em treinamento é treinada por uma gueixa já experiente que se tornará sua Neesan (literalmente irmã mais velha) que pode lhe ensinar tudo, mas pode ocorrer também delas serem enviadas à escolas específicas, como por exemplo na dança, caligrafia, música, etc.
Essas escolas eram muito caras e caso a maiko não se saísse bem nos estudos, quase sempre seu treinamento era cancelado.