Gabriella Oliveira


ÉMILE DURKHEIM E O SUICÍDIO ALTRUÍSTA: ANÁLISE DO SEPPUKU JAPONÊS E A VISÃO JUDAICO-CRISTÃ
Gabriella Torres de Oliveira

Introdução
Com base no livro “O Suicídio” de Èmile Durkheim e sua conceituação sobre suicídio altruístra, este texto tem como objetivo analisar o seppuku japonês e a narrativa judaico-cristão, buscando compreender as diferentes narrativas acerca do autoextermínio e principalmente suas similaridades.
A principal fonte consultada para este estudo é o livro “O Suicídio” publicado em 1897 pelo sociólogo francês Èmile Durkheim (1858-1917), onde realizou um estudo social das taxas de suicídio em diferentes comunidades no Ocidente, e tentou demonstrar os fatores que levam o ser humano a realizar o suicídio e principalmente como a influência dos fatores sociais, a identidade comunitária, atrelados as motivações individuais, levam indivíduos à realizarem a prática do autoextermínio. 
Outros documentos de apoio que podemos destacar são o Bushido: alma de samurai, de Inazo Nitobe (2005) e a Bíblia Ave-Maria (1959).
O Suicídio altruísta e fatores sociais
O termo suicídio vem da língua latina (sui, que significa "próprio"; e caedere, que significa "matar") sendo, conforme Durkheim no seu livro “O Suicídio”, "todo o ato de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato praticado pela própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir esse resultado" (PENA, 2012, p.10).  Vale salientar que fatores psicológicos influenciam diretamente os indivíduos, mas todo ser humano está inserido em contextos históricos, em diferentes comunidades e formas de criação, sendo assim, para uma análise mais completa do suicídio, fatores sócio-culturais são extremamente decisivos.
Em seus estudos, Durkheim destaca três tipologias do suicídio: suicídio egoísta (expressão da individualização extrema, indivíduos ausentes de laços familiares ou sociais); suicídio anômico (ligado ao desregramento, gerando crises conforme as malhas sociais são enfraquecidas); e o suicídio altruísta (alta subordinação dos indivíduos à comunidade, forte senso de dever e maior enlaço entre indivíduo e o meio social).
Os fatores que levam ao suicídio são os mais diversos; sendo de ordem interna (saúde emocional ou física) ou de ordem externa (pressão social ou relacional, fatores culturais, biológicos, etc.).  Em suma, o "suicídio relaciona-se etnologicamente com uma gama de fatores, que vão desde os de natureza sociológica, econômica, política, religiosa, cultural, passando pelos psicológicos e psicopatológicos, até os genéticos e os biológicos" (PENA, 2012, p.12)
O suicídio está presente em toda a história da humanidade, independente da cultura, religião ou país.  Pode se encontrar mais enraizado nos valores culturais e sociais, como o caso do seppuku, ou como um tema ainda em discussão e de formação identitária de uma comunidade, como o martírio cristão na Antiguidade. 
Por estarmos analisando duas culturas fortemente comunitárias, forjadas em laços sociais onde o individual e coletivo se integram, a terminologia durkheimiana de suicídio que utilizamos é a do suicídio altruísta.  Este possui quatro características fundamentais: um contexto de integração social anormalmente excessiva; é geralmente marcada pelo apoio da opinião pública; beneficia a sociedade materialmente ou culturalmente; e é muitas vezes marcada pela emotividade positiva (STACK, 2004, p.10). 
É muito importante compreendermos que o suicídio altruísta está justamente presente neste contexto de excesso de integração social, onde o individual vai sendo “anulado” pelo bem da comunidade, em muitos casos existe o incentivo da perda da individualidade em prol do grupo, principalmente quando este está ligado a rituais e crenças culturais e religiosas.  O suicídio altruísta ocorre em tais sociedades por uma variedade de razões. Em todos os casos, no entanto, os suicídios são tolerados pelo grupo. O indivíduo comete suicídio por algo que eles amam mais do que eles mesmos (Durkheim, 1897/1966, p. 228)
O cristianismo e a cultura do martírio
Ao nos aprofundarmos no caso judaico-cristão, faz-se necessário contextualizar alguns aspectos que nos auxiliam a compreender os motivos pelos quais levaram muitos a recorrerem ao suicídio (ou martírio) altruísta, mas também a visão bíblica sobre o tema e o que os povos não cristãos, mas pertencentes ao Império Romano, pensavam sobre.  Afinal, estas comunidades estavam inseridas no Império e tinham suas identidades forjadas não apenas pelo aspecto religioso, mas também cultural de sua região e família.
Primeiramente, no caso judaico-cristão existem dois termos que podem ser aplicados, o suicídio altruísta e/ou o martírio altruísta, pois cada cultura poderá denominar de uma forma independente, principalmente por causa do fator religioso adicionado.
Em termos religiosos, para algumas pessoas suicídio é a morte intencional, resultado de uma angustia, desapontamentos e uma vida sem esperança.  De outro lado, martírio é uma morte heroica, resultado de um comprometimento de ideais e princípios, como amor pela família, patriotismo, dedicação as crenças religiosas e suas práticas.  Martírio se tornou sinônimo de suicídio quando alguém provoca a morte, buscando a morte por razões egoístas, como a glória (CONSTANTELOS, 2004, p.57)
Descrevendo brevemente a visão romana sobre o suicídio encontramos que: “sendo tido na sociedade romana não somente como uma demonstração de liberdade de escolha, mas também de possibilidade de "morte nobre".  Afinal, alguns suicídios poderiam se dar a fim de "resgatar a honra perdida e restaurar o equilíbrio à sociedade", se tornando possibilidade de uma "morte nobre" (NETO, 2018, p. 163).  Não se torna uma questão de valorizar o suicídio, mas de poder escolher uma morte honrada em virtude da situação presente de vida. Por fim, vale salientar que nem todos estavam de acordo com o suicídio, mesmo em casos de honra, já que indivíduos que atentam contra a sua vida, também atentam contra a sociedade.
A Bíblia não narra diretamente eventos e relatos sobre suicídios, mas apresenta alguns casos no Antigo Testamento (“Biblia hebraica”) em que: “presume-se tratar-se de suicídio altruísta - conforme a tese de Durkheim (O Suicídio), onde se destaca a visão de que o indivíduo não consegue permanecer vivo quando se perde a estima púbica.  Motivos como conflitos e desonras podem levá-lo à condenação” (PENA, 2012, p.16-17).
Giani Mota Brandão Pena (2012) listou cinco casos do Antigo Testamento que se encaixam na tipologia durkheimiana de suicídio altruísta:
- Em Juízes 9.54 consta o relato de que Abimeleque, ferido mortalmente por uma pedra de moinho (lançada contra ele por uma mulher), pediu ao seu escudeiro que o matasse por uma questão de honra, pois não queria passar pela humilhação de ser morto por uma mulher. 
- Em I Samuel 31.4-6 onde se relata que o rei Saul, também gravemente ferido em ambiente de guerra, temendo ser ridicularizado e torturado por seus inimigos, jogou-se contra a ponta de sua própria espada.  Vendo o que o rei fizera, seu escudeiro seguiu o exemplo de seu senhor, morrendo ao seu lado: "jogou-se também sobre sua espada e morreu com ele".
- Em II Samuel 17.23 consta a narrativa de Aitofel, um dos conselheiros de Absalão, que se enforcou em casa depois de saber que o rei havia rejeitado seu conselho.  O texto indica a possibilidade do mesmo ter enfrentado grande temor e intensa crise emocional por ter instigado o rei, no papel de conselheiro, a cometer crimes bárbaros: "Vendo Aitofel que o seu conselho não havia sido aceito, selou seu jumento e foi para casa, para sua cidade natal; pôs seus negócios em ordem e depois se enforcou.  Ele foi sepultado no túmulo de seu pai".
 - I Reis 16.18 relata que Zinri havia cercado Tirza e, depois de um golpe de Estado tornara-se rei.  Mas, ao se dar conta de que o povo não lhe prestava apoio, cometeu suicídio da seguinte forma: "entrou na cidadela do palácio real e incendiou o palácio em torno de si, e morreu" (I Reis 16.18).
- Em Juízes 16.26-31 é o caso de Sansão - provavelmente o mais conhecido, onde tirou a própria vida e a de três mil proeminentes inimigos ao fazer com que um edifício todo ruísse, se matou para cumprir um papel social, a missão de liderar o seu povo.  (PENA, 2012, p.17)
Acrescento o sexto caso encontrado no Antigo Testamento, que é o suicídio de Razis em II Macabeus 14. 37-46. A história de seu suicídio é a que, vendo que seus inimigos se aproximavam, Razis tenta se matar jogando-se contra sua espada, por ter errado o alvo, se joga do alto de uma muralha, ainda assim não morre, e em um gesto de desespero, arranca suas próprias entranhas e as joga contra a multidão. “Em um contexto de guerra, Razis, o "pai dos judeus" (2 Mac 14.37), como era chamado, não busca matar seus inimigos, mas a si mesmo - não direciona sua violência contra o outro, mas contra si” (Neto, 2018, p. 156)
É preciso destacar que: “mesmo a Bíblia Hebraica não condenando explicitamente o suicídio, não apresenta o mesmo sob perspectiva positiva (...) pelo contrário todos estes casos são apresentados "sob condições não usuais e extenuantes", tomados como atitudes resultantes de maldade (Zimri), desesperança (Saul/escudeiro/Aitofel), vergonha (Abimeleque), e vingança (Sansão) ” (Neto, 2018, p.157-158).  O Deus descrito na Bíblia é um Deus de vida, e por isso, mesmo nos casos descritos em que fiéis pediam por sua morte, Deus concede vida, os livrando da morte.
Existem duas tradições judaicas sobre o suicídio, a tradicional, que visa negativamente o suicídio e o proíbe estritamente, e uma nova corrente dentro da teologia judaica, que usa como exemplo II Macabeus para mostrar que existem exceções para a realização do suicídio, esta corrente se denomina teologia do martírio. 
A teologia do martírio surge dentro do judaísmo e estabelece uma causa de exceção, pela qual o suicídio pode se tornar digno não somente de aprovação mas também de louvor, que é o martírio.  Afinal, em situações de perseguição, o judeu poderia e até mesmo deveria enfrentar a morte se fosse necessário para se manter fiel à Lei de Deus, de modo que, "apenas para santificação do nome do Senhor um judeu tiraria sua vida intencionalmente ou permitiria que fosse tirada, como um símbolo de sua extrema fé em Deus (NETO, 2018, p. 158)
Adentrando ao Novo Testamento, já para a análise cristã sobre o suicídio nos deparamos com o registro de maior importância e ênfase sobre o tema, o suicídio de Judas Iscariotes descrito em Mateus 27.3-4, quando ao se deparar com os resultados de sua ação (a traição contra seu mestre Jesus), não suportou a dor de viver e retira-se para enforcar-se.  No livro de Lucas encontramos a associação do suicídio com a possessão demoníaca, pois este descreve: “Então Satanás entrou em Judas” (Lucas 22.3).  Outro breve relato é episódio do carcereiro Filipos que, depois de um terremoto pensou que os prisioneiros sob a sua guarda haviam fugido, assim, tenta se matar.  O ato apenas não se concretizou por causa de Paulo, que intervém e acalma o guarda, convencendo-o a não retirar a própria vida. (Atos 16.26)

Mesmo que o discurso cristão seja contrário ao suicídio, e como já falado anteriormente a diferença terminológica adotada por diferentes grupos entre martírio e suicídio, muitos cristãos durante a época das perseguições romanas, se entregaram a morte como forma mostrarem fidelidade tanto a Deus, quanto à comunidade. O martírio altruísta (ou suicídio altruísta) criam o aspecto de santidade ao que realizou, justamente pela entrega corajosa e honrosa, valores importantes para a comunidade religiosa.
O seppuku, a alma samurai e seus valores
O seppuku era uma instituição legal e altamente ritualística reservada ao estamento samurai, separava justamente o estamento guerreiro do povo comum.  “Desde o fim do século XVI os dirigentes do Japão se esforçaram por aumentar esse abismo social, quiseram jugular a mobilidade social, elevar entre uma situação e outra obstáculos intransponíveis” (PINGET, 1987, p. 181).  Cada estamento social estava fechado em si próprio, como forma de controlar a sociedade, logo, a imobilidade foi vista como atitude necessária para manter a paz e equilíbrio no Japão, controlar os estamentos, suas funções, direitos, deveres e costumes, garantindo a soberania final do Xogum.
“Ao analisarmos o seppuku, se faz necessário destacar o bushido, que é um código de princípios morais a que os cavaleiros eram exigidos ou instruídos a observar” (NITOBE, 2005, p.11) e é neste código que os samurais e suas famílias eram educados, de modo que o caminho que deveriam seguir era o da honra, da lealdade, do dever e autocontrole, significava suportar e enfrentar todas as calamidades e adversidades com paciência e disciplina.  Sendo assim, o seppuku tem uma raiz histórica e bem determinada:
“(...) era um processo pelo qual os guerreiros podiam expiar seus crimes, desculpar-se por seus erros, fugir da desgraça, redimir seus amigos, ou provar sua sinceridade.  Quando executado como uma punição legal, era praticado com a devida cerimônia.  Era um refinamento de autodestruição, e ninguém podia executá-lo, sem a máxima frieza de temperamento e serenidade de conduta, e por essas razões, era particularmente condizente com a profissão do bushi” (NITOBE, 2005, p.81)
O método utilizado para a realização do seppuku consistia num corte horizontal no abdômen, abaixo do umbigo, deixando as entranhas expostas, ao final do corte, o kaishakunin decapitava o homem, um trabalho que exigia extrema maestria, já que qualquer erro poderia ser uma mancha para si próprio. 
Quanto ao motivo pelo qual escolhem esta área para se abrir e realizar sua auto-expiação é a crença de que era no abdômen a morada da alma, e é valido salientar que esta não era uma visão restrita aos japoneses, outros povos como por exemplo, os israelitas, possuíam a mesma crença:
 “(...) a escolha dessa parte particular do corpo operar, foi baseada numa velha crença anatômica quanto à sede da alma e das afeições.  Quando Moisés escreveu sobre os intestinos de José ansiando por seu irmão, ou Davi orou ao Senhor para não esquecer suas entranhas, ou quando Isaias, Jeremias, e outros homens antigos inspirados falaram do "som" ou da "perturbação" das entranhas, todos e cada um deles endossaram a crença prevalecente entre os japoneses de que no abdômen estava guardada a alma” (NITOBE, 2005, p.79)
Por se tratar de um processo ritualístico, lento e doloroso, quem realizava o seppuku era visto, mesmo por seus inimigos, como um homem valoroso, honrado e corajoso, características de um perfeito samurai.  Morrer com honra era a escolha de qualquer samurai, rejeitavam assim cair em mãos inimigas ou mesmo, serem mortos em situações desonrosas.
Muito cedo, o filho, a filha de um samurai aprendia que as primazias que lhe eram reconhecidas comportavam, em troca, o dever de se sacrificar, em muitas ocasiões, em honra do nome, ou seja, ao orgulho de classe vivido sob a forma de uma exigência ética (PINGET, 1987, p. 181)
A sociedade japonesa se desenvolve com influências confucionistas e budistas, que atuaram na formação doutrinária e ética presente no Bushido.  Evidencio este fato pois, como dito anteriormente, a cultura japonesa é fortemente ligada na ideia da nação, da comunidade, e dos laços sociais, por esta razão, não podemos compreender o seppuku como um simples ritual ou mesmo, um suicídio egoísta por parte de quem realiza. 
Existe uma hierarquia social dentro das relações japonesas: “cinco relações morais entre mestre e criado (o governante e o governado), pai e filho, marido e mulher, irmão mais velho e mais moço, entre amigo e amigo”.  Além disso, outro valor de suma importância é o Giri, que significa dever, puro e simples (...) é o dever que: “devemos aos pais, aos superiores, aos inferiores, à sociedade em geral, etc.”” (NITOBE, 2005, p.17 e 23).
Esse senso de sempre ter alguém a quem se deve a vida, as conquistas, as posses, etc., garante o laço social, não apenas entre familiares, mas entre a comunidade em que se vive.  Não se rompe o Giri, pois sua compreensão, além do dever se enlaça com o da lealdade, assim, quando o indivíduo conhece seu Giri, significava que deveria ser leal o resto de sua vida, tanto a pessoa a quem se deve, quanto aos seus dependentes, já que a ideia do dever social é a que prevalece. Além disso, pagar o Giri poderia significar entregar a própria vida a quem se devia tudo.
Evidencio esses valores da sociedade japonesa pois influenciam diretamente em suas características psicológicas e de atuação social, que até hoje são possíveis de serem encontradas na sociedade nipônica atual. O sucesso e o fracasso de um indivíduo não são apenas dele, mas também de sua família e de todos aqueles que estão relacionados ao mesmo. Compreendendo este valor, percebemos os motivos que dificultam o rompimento desses ideais e da concepção de que cometer o suicidio, ainda hoje, é uma saída mais honrosa, do que falhar com todos aqueles a quem se deve tudo o que se tem. 
Conclusão
Em resumo podemos concluir que mesmo tão distantes, a cultura do seppuku e as narrativas judaico-cristão acerca do suicídio possuem suas proximidades, principalmente ao relacionarmos as culturas que possuem fortes valores coletivistas, alto senso de honra e lealdade a algo superior que a si próprio.  A identidade individual desses povos está entrelaçada com a social, sendo assim, o senso de pertencimento a comunidade e as possíveis consequências dos atos individuais são compartilhados com o grupo, e o contrário também é válido, assim, sentimentos como vergonha, culpa, falhas, etc., fortalecem e se tornam um fator determinante para o suicídio. 
Por fim, entendemos que existe uma linha tênue entre martírio e suicídio altruísta, soma-se a este fator, as próprias diferenças culturais entre os três grupos aqui analisados, porém, a maior similaridade entre os mesmos se dá no fato de que a entrega da própria vida não se deve realizar por valores fúteis ou individualistas, visando honrar a si próprio.  Todos compreendem que se for para morrer, devem morrer de forma honrada, valorosa e mantendo sempre a lealdade para seu superior, seja o Deus dos judeus e cristãos, seja por ser líder (Xogum, Imperador).
Referência
Gabriella Torres de Oliveira é graduada em História pela Universidade Federal do Espírito Santo e atualmente Mestranda pela mesma instituição, bolsista CAPES
Mail: gabriellat.oliv@gmail.com
ALMEIDA, A. M.; NETO, F. L. Religião e Comportamento Suicida. In: Meleiro, A. M. A. S.; Teng, C. T.; Wang, Y. P. (Eds.) Suicídio: Estudos Fundamentais.  São Paulo, Segmento Farma, 2004. pp. 53-60
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada Ave-Maria, 141.ed. São Paulo: Editora Ave Maria, 1959.
CONSTANTELOS, D. J. Altruistic Suicide or Altruistic Martyrdom? Christian Greek Orthodox Neomartyrs: A Case Study, Archives of Suicide Research. v.8, n.1, p. 57-71, 2004
DIAS, J. C. T. A comunhão dos santos. Notas sobre santidade e martírio. Ciências Sociais e Religião. Porto Alegre, n.20, p.13-23, 2014.
DURKHEIM, E. Suicide: A study in sociology. New York: Free Press.1897/1966
INAZO, N. Bushido: alma samurai. São Paulo: Tahyu, 2005
PINGUET, M. A morte voluntária no Japão. Rio de Janeiro: Rocco, 1987
NETO, W. R. Violência contra si como sacrifício: o suicídio de Razis em 2 Macabeus 14.37-46. Revista Unitas, v.6, n.1, 2018
PENA, G. M. B. Suicídio, sobrevivente e aconselhamento pastoral: reflexões no vale da sombra da morte. 2012. Dissertação (Programa de pós-graduação em teologia) - Escola superior de teologia, São Leopoldo, 2012
STACK, S. Emile Durkheim and Altruistic Suicide: Archives of Suicide Research. v.8, n.1 p. 9-22, 2004

9 comentários:

  1. Boa tarde, prof(a)!

    Por martírio no entendimento católico ser uma morte heróica, se o suicídio japonês, sendo altruísta, na visão de Durkheim, dependendo do caso, poderia ser enquadrado como martírio? Você acredita que é possível ser mártir através do suicídio?

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    1. Boa tarde, obrigada pela pergunta. Bom, segundo Durkheim o suicídio altruístra é a alta subordinação dos indivíduos à comunidade, ligado também a senso de dever e valores, a identidade individual se mistura com a do meio social. A partir deste fato percebemos que os dois (o suicídio japonês e o martírio cristão) se aproximam visto a esse conceito. A diferente nominação se dá pelo contexto histórico, onde a terminologia do suicídio é vista negativamente por causa do suicídio de Judas, assim, já não cabia a aproximação cristã em um período de perseguição (e aqui de formação de uma identidade separada da judaica, dos pagãos contra os cristãos, etc.,) com um termo pejorativo, pois mesmo que se enquadre na terminologia, o martírio recebe o peso político e identitário pois seria da entrega individual pela comunidade, por algo maior que si próprio, quando o suicídio passaria a ser visto estritamente egoísta (aquele individualista). Creio que sim, acho interessante a utilização das terminologias com seus sentidos próprios, ao mesmo tempo que possuem proximidades conceituais, e através dessas proximidades (e aqui tendo em vista que esxitem diferenças entre as comunidades judaicas, cristãs e japonesas) creio que sim, é possível ser mártir através do suicídio altruístra, já que o indivíduo é tão ligado a comunidade que se entregar por ela por sentir que seu dever é maior com o meio social, do que com ele próprio. Espero ter conseguido explicar. ATT. Gabriella Oliveira

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  2. Bom dia Gabriella Torres de Oliveira! Primeiramente gostaria de elogiar seu excelente texto! Desejaria saber quais as possíveis semelhanças relacionadas ao suicídio, apresentadas nas culturas do Xogunato e Judaica, a partir das suas perspectivas religiosas?
    MICHELL RIBEIRO SOBRAL

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    1. Boa tarde, obrigada pela pergunta e pelo elogio, espero conseguir responder adequadamente. Bom, quando estudamos as duas comunidades (judaica e nipônica) percebemos que possuem semelhanças, e a principal é o senso de pertença ao meio social, a identidade individual é ao mesmo tempo a da comunidade, e a querela religiosa é muito importante, por mais que as religiões praticadas sejam em sua essência únicas. Bom, aqui pondero que o suicídio praticado nos relatos bíblicos e os casos do seppuku podem em essência não ter aproximação religiosa por si só, mas os valores que levam os indivíduos a realizarem, sim. Utilizando os relatos expostos neste trabalho, no caso judaico vemos que a Bíblia Hebraica não fala sobre o suicídio especificamente, nem no livro das leis que é Deuteronômio, mas existem casos. Nos casos relatados vemos um padrão, são homens, guerreiros (no caso de Juízes o escudeiro se mata após terminar o suicídio de Abimeleque), o medo da desonra, de ser ridicularizado, etc. A religião judaica em si é a ligação do homem com o Deus único, por isso as regras morais e de vida são muito controladas, para honrar a Deus, e também a quem ele coloca para governar. Tem duas proximidades muito interessante as duas culturas que é o culto ao antepassado e as raízes divinas dos governantes (reis e imperadores). Falando bem superficialmente, o culto aos antepassados permite rememorar a história da família e da comunidade, as origens e principalmente as guerras que venceram e os motivos que os levaram a vitória. E as raízes divinas dos governantes (seja pela origem imperial de uma deusa, seja pela origem sanguínea com os patriarcas ou pela unção de Deus). Esses dois fatores unem a comunidade, e ai existem leis e valores embutidos nesses indivíduos, onde hierarquizam superiores, entendem que devem respeitar as ordens superioras e caso necessário, se for pela defesa da honra e do bem maior (os superiores humanos ou Deus), eles deveriam entregar a própria vida como ápice de lealdade e moral do indivíduo para com a comunidade que ele representa, e esse suicídio seria louvado dentro da comunidade e muitas vezes até pelos inimigos. Espero ter conseguido responder, mesmo que brevemente sobre isso, é um assunto bem extenso mas muito interessante para mim. Att. Gabriella Oliveira

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  3. Parabéns pelo excelente texto, ele apresenta muitos pontos interessantes mesmo. Gostaria de saber se caso um homem negasse a realização do ritual ou acabasse desistindo durante o processo, um parente poderia substituí-lo para manter assim a honra da família? E se existem relatos sobre mulheres que realizaram o seppuku?
    Obrigada.
    .- Gabriela de Melo Vieira

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  4. Desde já agradeço a pergunta e o comprimento. Bom, respondendo as perguntas, o ensinamento do seppuku era realizado desde criança, todos do estamento samurai eram ensinados como deveriam realizar, e aqui falo de homens e mulheres, mas existe diferença entre os dois gêneros nesta pratica. Pelo seppuku ser uma cerimonia bastante elaborada, ser executada na frente de outras pessoas (mesmo que em alguns casos com a presença apenas de um homem mais o kaishakunin - aquele que decapita o samurai após o corte no abdômen) e estarmos falando de uma comunidade onde a identidade individual é mesclada com a comunitária e existem regras e valores muito fortes, seria muito difícil ocorrer essa recusa, pois por mais medo que sinta, chegar no ritual e não termina-lo seria uma desonra muito grande, além de ir contra justamente aos valores de disciplina e lealdade que está no código de honra dos samurais. É um bom questionamento pois não me deparei ainda com esses casos, mas existem alguns envolvendo até crianças, que estando na situação de terem que realizar o seppuku, olham os mais velhos e repetem ao final. No caso das mulheres era também concedido o direito de realizar o suicídio, não cortavam o abdômen, mas sim a jugular ou apunhalavam o coração com um punhal que ficava geralmente guardado nas vestes, e esse ato seria uma forma de preservar a dignidade da mulher e principalmente a fidelidade, saliento também que elas amarravam as pernas para que na queda estas não se abrissem, e não era tão ritualizado como a do homem, muitas vezes até estariam sozinhas neste momento. Lembrando que estamos falando de um estamento alto na sociedade japonesa, e quando falamos de mulheres de estamento samurai, caso seu clã perdesse, elas estariam sujeitas a casos de estupro, sequestro etc., obrigadas a outros casamentos, etc. então para além de cumprir com uma obrigação a qual foram ensinadas desde novas, seria uma forma de proteção. Elas poderiam acompanhar o marido na morte, mesmo se estes tivessem sido condenados, e ai as mulheres precisariam de uma autorização do senhor para praticar o jigai (o suicídio feminino). Caso se interesse, Stephen Turnbull escreve um pouco sobre o suicídio feminino, creio que vale a pena a leitura. Agradeço novamente e espero ter respondido suas perguntas.

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  5. Boa noite Gabriella, gostaria de parabenizar pela sintese de ideias que apresentou e seguir com minha questão: compreendendo também da cultura japonesa e o dever pela honra, você realmente acho possível estabelecer uma relação entre o martir cristão-judaico e o seppuku? Vejo que o seppuku culturalmente acaba por ser visto mais como uma expiação de si do que como uma catarse social, partindo do seguinte elemento: ele é sacrificio de si para si, pensando na lógica de que os membros desta cultura baseada na honra são extenções coletivas faria sentido, mas pensando a partir deste ponto não seria uma questão de divergência com a cultura cristã-judaica que vê o individuo como tal e não extensão do todo?

    Gostaria também de sugerir o seguinte livro que parece ir de encontro com seus questionamentos e comparações "Tempo e espaço na cultura japonesa" de Shuichi Kato, neste livro o Autor aborda diversas questões culturais do japão e de outros povos, como a cultura judaico cristã. Grato.
    Douglas Tacone Pastrello

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  6. Débora Barbosa de Vasconcelos matos7 de agosto de 2019 às 18:55

    Estou pesquisando sobre Lucrécia, uma personagem da narrativa de Tito Lívio que interfere para queda da monarquia em Roma (509 a. C.), e esta declara que comete suicídio para se livrar da mácula causada pelo estupro que sofreu, e que "condenou sua honra".
    O suicídio como "possibilidade de morte nobre" em virtude de alguma situação presente em vida, que você citou no texto, é um aspecto social também presente em Roma antes do período Imperial?

    Débora Barbosa de Vasconcelos Matos

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