TURCOMANOS
DE XINJIANG: OS CIDADÃOS DE SEGUNDA CATEGORIA DA CHINA
Daniel
Nunes Ferreira Junior
Lucas
Pereira Arruda
A História de nossa civilização está marcada por
recorrências, alguns eventos apresentam semelhanças marcantes, que insistem em
se repetir. Para bem e para mal, uma das motivações dessa pesquisa foram
passionais, observar títulos de notícias com os dizeres, “Campos de Concentração
do século XXI” ou “Gulags chineses”, faz com que a memória de qualquer um volte
para a primeira metade do século passado. Por ter sido bombardeado por esses
títulos em minhas pesquisas sobre China, o objetivo para o próximo trabalho já
tinha sido decidido. No levantamento inicial para essa pesquisa uma intuição se
constatou. Ninguém fala de Xinjiang, não com a devida atenção, para não citar
nomes, as análises acadêmicas são praticamente inexistentes; as jornalísticas
quase sempre muito fechadas nelas mesmas, algumas até de forma tendenciosa. Por
fim, essas ocorrências só incentivaram o desenvolvimento de uma pesquisa que,
em língua portuguesa, provavelmente é inédita.
Esse trabalho busca analisar as ações chinesas contra seus
cidadãos Turcomanos, visando responder três questões centrais. 1: Quem são
esses povos; quantos são, sua história e cultura, assim como o espaço
geográfico que historicamente eles habitam. 2: Como vem sendo feita a diluição
de seus direitos; quais são os métodos empregados por Pequim em busca do
controle social dessas populações, assim como a supressão econômica, civil,
intelectual, cultural e religiosa, tendo destaque nesse cenário, os sistemas de
supervigilância. 3: o que a China busca com suas ações em Xinjiang; qual a
função da província na geopolítica global do país e quais os possíveis
objetivos de Pequim.
(Imagem 1: Província chinesa de Xinjiang)
Os
turcomanos
Os turcomanos que habitam Xinjiang (ver imagem 1) são uma
clara minoria em termos nacionais chineses. Segundo o último censo chinês
(2010), compreendem cerca de 11 milhões de pessoas. Todavia, números
atualizados trabalham com a estimativa de 14 milhões. Desse montante, o
principal grupo são os uigures, eles representam quase que 11,5 milhões dos
turcomanos; cerca de 1,5 milhão são cazaques; uzbeques, quirguízes, tártaros e
turcomenos, formam a minoria dentro da minoria.
Esses povos ocupam -praticamente- o mesmo território de sua
origem histórica, Ásia Central, mais especificamente o extremo noroeste da
atual China. Local esse que é majoritariamente habitado por povos de
ascendência turca e que é onde se localiza a província de Xinjiang, região
central de nossos estudos (YUNUSBAYEV et al., 2015). Como povo
historicamente nômade, os deslocamentos de longa distância sempre foram normais.
Esse é um dos motivos que nos faz encontrar povos túrquicos na Sibéria,
Anatólia e próximo ao Volga, além da própria Ásia Central. Outros fatores que
foram responsáveis pelos contínuos deslocamentos foram as expansões mongóis e
as redes comercias, com destaque para a antiga Rota da Seda.
Quando se fala da cultura turcomana, é impossível não
lembrar da enorme diversidade. Todavia, para fins de análise, é necessário
focar em suas semelhanças. Inicialmente, destaca-se seu tronco linguístico, que
assim como o latim, criou outros “galhos” que são únicos ao mesmo tempo que
guardam suas semelhanças, o que possibilita uma razoável inteligibilidade
comunicacional entre eles. (ver imagem 2).
Outro fator unitário é a religião: a grande maioria é de
muçulmanos, o que não é diferente dos túrquicos que habitam a China. É valido
afirmar que a classificação como muçulmanos é um dos fatores que fazem deles
cidadãos de segunda categoria, uma vez, que não dividem com os Hans esse traço histórico-cultural.
Por fim, não podemos deixar de mencionar que um patrimônio
imaterial da humanidade vem correndo risco de extinção na China. Falamos da
“arte dos akyn”, que são narrações épicas dos nômades, envolta de musicalidade,
passada oralmente através das gerações. Tal patrimônio se tornou virtualmente
proibido em Xinjiang, pois jovens que tentavam popularizar essa tradição foram
presos nos campos de “reeducação”. Essa ação de força vinda de Pequim é apenas
um exemplo de suas ações assertivas realizadas na província. (BUNIN, 2019)
(Imagem 2: Mapa do tronco linguístico túrquico. As cores
diferenciam os diversos “galhos” linguísticos)
Os
flagelos
Os cidadãos da província de Xinjiang vêm sofrendo na pele
com o que há de mais desenvolvido no que diz respeito a sistemas de vigilância
e controle social. Primeiro, há de deixar claro, na prática, não são todos os
cidadãos que são visados, mas, sim, os turcomanos; para eles, um sistema
especial de vigilância e supressão foi montado: câmeras com reconhecimento facial,
rastreamento de celulares, um vasto banco de dados biológico e socioeconômico,
integrado em uma rede segurança com algoritmos que traçam os perfis dos
cidadãos e formam a base dessa infraestrutura de supervigilância.
Com a finalidade de identificar supostos terroristas, a
China mapeou todas as informações possíveis dessa população. O governo tem, em
seu banco de dados, informações como: escâner das digitais e de ires, amostra
de “DNA” e de voz. Grande parte dessas amostras foram obtidas através do uso da
força. (HUMAN RIGTH WATCH, 2019)
Além disso, a infraestrutura de supervigilância está instalada
nos mais diversos locais: pontos de ônibus, metros e nos supermercados, para
dar alguns exemplos. As câmeras de identificação facial estão localizadas
sempre em ambientes de grande fluxo populacional; elas se ligam automaticamente
ao banco de dados do cidadão, cruzando suas informações e registrando suas
ações. Isso permite que o algoritmo identifique tendências e crie filtros de
identificação populacional. Esses filtros traçam padrões e individuais que são enquadradas
em um grupo maior.
(Imagem 3: Checkpoints onde os documentos dos turcomanos são
fiscalizados e comparados com o banco de dados já construído).
Um dos grupos mais monitorados e considerados como potencias
suspeitos são as famílias que possuem membros fora do país. Para esses casos, a
ação governamental é assertiva. Primeiro, tenta-se de todas as formas que o
turcomano-chinês residente fora do país volte. Pequim busca dois caminhos
principais para chegar no seu objetivo: O primeiro caminho é a ameaça da
família que ainda reside na China. No segundo, busca-se a deportação do seu
cidadão através da expulsão pelo país onde ele reside, fazendo pressão governamental
ou institucional. É famoso o caso dos uigures e quirguistaneses (chineses) que
não tiveram a sua rematrícula aceita em universidades estrangeiras, enquanto os
chineses Han não tiveram nenhum problema. Um dos motivos
que podemos supor é a necessidade de Pequim impedir a organização de um grupo
intelectual de resistência fora de seu país, o que significa, na maioria das
vezes, um “problema” que não se pode resolver, a não ser de forma
“terceirizada”, ou seja, dependendo da cooperação de outros órgãos.
Esse movimento não é apenas violento pelo aspecto
individual, como também é processo limitador de todo um povo, uma vez que se
limita o acesso de grupos minoritários ao ensino superior, rebaixando o teto de
oportunidades. Fica nítido que as ações chinesas também possuem reflexos
econômicos, diminuindo a capacidade de formação intelectual, também se limita
as chances de conseguir um emprego melhor remunerado. Não há dúvidas que esse fato cria um ciclo
negativo para os turcomanos, limitando-os a servir de mão-de-obra barata em sua
própria província, reservando as vagas importantes dentro da arquitetura
governamental para “casta” superior, para os “Han”, que cada vez mais vêm se
tornando uma elite dentro de Xinjiang.
Algo que reforça esse discurso é o tratamento privilegiado
que os Han recebem. Por exemplo, nos “checkpoint”, existe uma fila especial
para os Han, onde eles não são obrigados a se identificar perante o policial.
Os turcomanos não apenas têm de se identificar, como também são submetidos a
todo um sistema de monitoramento por câmeras e agentes, o que deixa nítido que
há “cidadãos mais iguais que outros”. Esse fato solidifica a tese de uma
política de “colonização” Han em Xinjiang. Os números chineses apontam que em
1949, os Han constituíam 7% da população da província, hoje esse número se
aproxima de 36%. Esse “avanço colonial” se deu, à medida que a importância e o
desenvolvimento se acentuaram no território, ou seja, ao passo que novas vagas
nas empresas e na burocracia estatal foram surgindo, demonstrou-se necessário a
realocação de “gente confiável” para esses cargos, gente essa que os turcomanos
não eram e ainda não são. Uma medida que podemos especular é, que o processo de
supervigilância, seria um método que a China utiliza para “garantir” a
“fidelidade” dos turcomanos, óbvio que essa lealdade é “assegurada na ponta da
espada”, mas se Maquiavel estiver correto, entre ser amado ou temido, escolha a
segunda.
Após estabelecermos a supressão cultural, intelectual,
econômica e social sofrida pelos turcomanos, mostra-se necessário discorrer
sobre aquilo que demonstrou ser o símbolo da repressão: os campos de
“reeducação”.
O símbolo
da repressão
(Imagem 4: Os campos de “reeducação” de Xinjiang).
As denúncias a respeito desses locais (ver imagem 4), são inúmeras, porém, para nos aprofundarmos nelas, vamos partir da justificativa sínica. Em maio de 2019, a porta-voz do governo chinês, Global Times, repercutiu uma reportagem com o sugestivo título “Ambassador tells truth of Xinjiang”.
A matéria retratava o embaixador chinês, Zhang Xiao, que
atua no Cazaquistão, defendendo e justificando a necessidade dos “campos de
treinamento”. Afirmou também, que é uma total mentira dizer que existe Gulag ou
Campo de Concentração em Xinjiang. Ele faz um pequeno retrocesso histórico para
argumentar e diz, que há três décadas, Xinjiang Chinesa sofre com três
flagelos: terrorismo, separatismo e extremismo religioso. Para que esses males
sejam sanados, os campos de “reeducação” demonstraram-se fundamentais para uma
vida “social normal e segura”. (GLOBAL TIMES, 2019)
Ainda sobre o depoimento, o embaixador estabeleceu os
motivos que podem levar uma pessoa para os campos de reeducação, afirmando que,
nenhum dos motivos envolve etnia ou religião. Zhang Xiao, alega que são apenas
dois motivos, Um: qualquer ação que explore os “flagelos históricos de
Xinjiang”, e o segundo; qualquer ato que ameace a sociedade. As justificativas
do mandatário chinês são amplas, permitindo que qualquer cidadão, seja qual for
o motivo, possa se tornar alvo. (GLOBAL
TIMES, 2019)
Esse escopo permite prisões arbitrárias, o que não é uma
novidade na China, mas ao dizer, na mesma reportagem, que alguns estão presos “por
compartilhar vídeos no WhatsApp”, fica claro a fragilidade jurídica em que
esses grupos se encontram. Questionado sobre o que esses campos ensinam, o
embaixador é enfático, “aprendem as leis que regem o cidadão chinês no século
XXI, assim como as gravidades de não as cumprir” e que “ao sair de lá, terão
aprendido a viver uma vida melhor”. (GLOBAL TIMES, 2019)
Zhang Xiao reafirma que o “retreinamento” é a melhor saída,
uma vez, que “as pessoas que não compreendem a modernidade e são levados pelo
caminho do terrorismo, radicalismo e separatismo não podem possuir Direitos
Humanos” (GLOBAL TIMES, 2019). Observando essa fala, se solidifica a tese de
superioridade que os “Han” impõem aos turcomanos, o que não é nenhuma novidade
para quem estuda a China. Fato é, que essa superioridade legitima as ações
assertivas de Pequim na região, sem se importar com a cultura local, já que
eles seriam quase “bárbaros” ou “anacrônicos”.
Por fim, ele analisa como positivo os resultados dos campos
de reeducação, alegando que graças a eles, nos “últimos dois anos, Xinjiang,
assim como a Ásia central, mantiveram-se estáveis” (GLOBAL TIMES, 2019). Supondo
que o resultado foi de fato satisfatório, devemos nos perguntar, qual foi o
custo humano que a China pagou por essa suposta estabilidade. Segundo depoimentos coletados pela Human Rigth Watch (2019),
ações violentas são usuais nos campos de reeducação. Os depoentes alegam que
tentativas de suicídio, mortes, punições psicológicas e físicas já ocorreram.
Levando em conta a fala de Zhang Xiao, não é surpresa que isso ocorra, pois,
segundo ele, há “pessoas que não possuem direitos humanos”. (GLOBAL TIMES, 2019)
Ainda relacionando os relatórios da ONG, com a fala do
dirigente chinês, é possível afirmar, que os campos possuem no mínimo duas
funções: internato educacional e prisão política. A questão mais grave é a
improbabilidade da manutenção dos direitos humanos nesses locais. A
impossibilidade se demonstra através do histórico chinês e pelas inúmeras
denúncias que esses locais já sofreram. Se acentua também, que essas práticas,
são voltadas principalmente a população turcomana, que na perspectiva
governamental, são atrasados, anacrônicos e passíveis a deslealdade, conferindo
a eles, um estigma de cidadão de segunda classe.
Por esse prisma, torna-se fantasioso crer que Pequim iria
admitir publicamente suas ações. Acentua-se nessa argumentação, o modelo
autoritário que a população chinesa vive. Em um mundo de “fake-news”, também
não podemos cair na argumentação “ocidental” (principalmente estadunidense), de
explicar as ações chinesas simplesmente “porque são assim” quase que como se
essas ações, ocorressem “lá”, pois faz parte de “sua natureza”. Essa
perspectiva flerta com a dicotomia, impede a análise racional, nos impondo um
filtro da visão “orientalista”. Observando de forma pragmática, as ações
chinesas não são baseadas apenas em preconceitos e racismo. Por trás da camada
ideológica, existe um núcleo baseado na geopolítica mundial chinesa, ou seja,
para entendermos a complexidade do cenário atual, precisaremos aprofundar nas
estratégias geopolíticas que a China aplica nessa região.
Xinjiang
e a grande estratégia chinesa
(Imagem 5: As seis artérias de infraestrutura da Iniciativa
Belt and Road)
Xinjiang possui importância singular. Essa importância não
está tutelada por fatores econômicos, nem mesmo pela abundância de recursos
naturais; a sua sobre-eminência pode ser identificada quando voltamos nossos
olhos para função geopolítica que a província ocupa.
De forma resumida, podemos afirmar que a província tem a
capacidade de ligar o mundo à China. Essa característica se apresenta dentro da
grande estratégia chinesa, também conhecida como Belt and Road Initiative
(BRI), chamada pela mídia de “A Nova Rota da Seda”.
Independente do nome, a iniciativa tem o objetivo de
solidificar a influência chinesa na Eurásia através das artérias de
infraestrutura. Esse propósito seria alcançado com a construção e manutenção do
fluxo do comércio eurasiano em direção a China, como uma espécie de novíssima
Roma, onde todos os caminhos levariam a Pequim. Para fechar essa questão, a
China espera amarrar o futuro da Eurásia ao seu, por meio da criação de laços
políticos, econômicos e culturais, provenientes das redes de infraestrutura
construídas pela BRI.
Apresentado o cenário, devemos nos perguntar, “qual o papel
de Xinjiang nessa arquitetura geopolítica?”. De forma objetiva, Xinjiang é o
portão de entrada do mundo para China. Isso se demonstra (ver imagem 5) quando
observamos que todos os corredores econômicos exclusivamente terrestres possuem
em Xinjiang seu ponto de partida. Essas artérias são essências para o
desenvolvimento Chinês, ou seja, pedras angulares de seu futuro geopolítico.
Sobre esse prisma, a eclosão dos “pesadelos” chineses em
Xinjiang - terrorismo, separatismo e radicalismo religioso -, poderia ser
desastrosa, não apenas em escala local, mas também global, comprometendo toda a
perspectiva de futuro. Ainda nesse cenário, suponhamos que os Turcomanos
refaçam os ataques terroristas que outrora já realizaram, mas desta vez, se
foquem exclusivamente nas artérias de infraestrutura chinesa, ou, que eles
consigam sua independência. O potencial que esses danos gerariam não podem ser
calculados em sua totalidade, mas restam poucas dúvidas, que se esse cenário se
realizasse, nenhum grupo teria tanto poder de influenciar a balança geopolítica
quanto os turcomanos.
Pequim, como desafiante da hegemonia de Washington, não irá
permitir o fortalecimento de um possível “independentismo” Turcomano em
Xinjiang. Para que essa possibilidade se
torne cada vez menor, o Estado chinês não irá cessar o sufocamento cultural,
político e econômico na província. Essa análise torna-se cada vez mais verdadeira
quando identificamos declarações como de Zhang Xiao, que observa com louvor os
resultados das ações do governo central.
Por fim, não parece restar muitas dúvidas que os
turcomanos-chineses de Xinjiang são de fato, cidadãos de segunda categoria.
Mesmo que os campos de reeducação não existissem, a arquitetura social que
Pequim impôs a seus cidadãos, já é o suficiente para afirmar que os mesmos não
possuem preservados diversos direitos essenciais. Sem contar, que graças a
localidade geográfica que eles habitam, o futuro chinês, parece cada vez mais
ser construído por cima dos turcomanos e não com eles.
Referências
Daniel Nunes Ferreira Junior: Graduando em História pela
Universidade Estadual de Maringá (UEM). Estuda a geopolítica eurasiana, com
enfoque na China e em sua Iniciativa, Belt and Road. Atualmente é pesquisador
do LabTempo (Laboratório do Tempo Presente) - UEM.
Lucas Pereira Arruda: Mestrando em Ciências Sociais pela
Universidade Estadual de Maringá (UEM). Estuda os processos de independência da
África e a literatura de resistência produzida neste período. Atualmente é
professor de sociologia e filosofia no Colégio São Marcos, em Jandaia do Sul.
Fontes:
GLOBAL
TIMES. Ambassador tells truth of Xinjiang. [2019]. Disponível em:
<http://www.globaltimes.cn/content/1146153.shtml>
Acesso em: 05 jun. 2019.
HUMAN RIGTH WATCH. “Eradicating
Ideological Viruses”: China’s Campaign of Repression Against Xinjiang’s
Muslims. [2019]. Disponível em: <
https://www.hrw.org/sites/default/files/report_pdf/china0918_web.pdf>
Acesso em: 05 jun. 2019.
Bibliografia:
YUNUSBAYEV, B. et al. The Genetic Legacy
of the Expansion of Turkic-Speaking Nomads across Eurasia. PLoS Genet, v. 11, p. 1–24, 2015.
BUNIN, Gene A. Kyrgyz Students Vanish Into Xinjiang’s
Maw. FOREIGN POLICY. 2019. Disponível em:
<https://foreignpolicy.com/2019/03/31/963451-kyrgyz-xinjiang-students-camps>.
Acesso em: 05 jun. 2019.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá Daniel e Lucas, parabéns pelo seu texto. A ótima escrita ajudou a fluiu muito bem suas ideias. Minha pergunta: é possível perceber, ou em alguma documentação que você tenha tido acesso, a existência de uma "resistência" cultural por parte dos turcomanos em decorrência da
ResponderExcluirimposição da cultura Han?
Murilo Moreira de Souza
Muito Obrigado Murilo e ótima pergunta!
ExcluirA resistência Turcomana certamente existe, mas o acesso a informações sobre essa resistência, é sempre dificultado pela China. Essa dificuldade é encontrada tanto de forma física, onde estrangeiros só podem ter acesso a locais previamente permitidos, quanto de forma digital, que com o projeto "Escudo Dourado" ou "the Great Firewall" inviabilizam qualquer transito de informação não autorizado de circular.
Todavia, nenhuma contenção é perfeita, principalmente quando se fala de pessoas que não estão mais em território chinês. Essas pessoas geralmente fornecem contatos e informações básicas para se traçar o levantamento mais aprofundado.
Finalmente respondendo sua pergunta, um dos movimentos culturais que chegaram a ser divulgados, foi a tentativa de renascimento de um típica dança turcomana da região. Enquanto estava nos países vizinhos não era um problema para Pequim, mas quando tal movimento de renascimento cultural chegou ao solo chines, o mesmo fora duramente reprimido.
O que podemos dizer, é que no mínimo, houve um, mas certamente podemos especular que devem haver muito mais, porém, como informações concretas nessas situações são sempre fragmentadas, infelizmente não poderia dar uma resposta completa. Peço desculpas e agradeço o seu tempo em ler nosso texto.
Daniel Nunes Ferreira Junior
Muito Obrigado Murilo e ótima pergunta!
ResponderExcluirA resistência Turcomana certamente existe, mas o acesso a informações sobre essa resistência, é sempre dificultado pela China. Essa dificuldade é encontrada tanto de forma física, onde estrangeiros só podem ter acesso a locais previamente permitidos, quanto de forma digital, que com o projeto "Escudo Dourado" ou "the Great Firewall" inviabilizam qualquer transito de informação não autorizado.
Todavia, nenhuma contenção é perfeita, principalmente quando se fala de pessoas que não estão mais em território chinês. Essas pessoas geralmente fornecem contatos e informações básicas para se traçar o levantamento mais aprofundado.
Finalmente respondendo sua pergunta, um dos movimentos culturais que chegaram a ser divulgados, foi a tentativa de renascimento de um típica dança turcomana da região. Enquanto estava nos países vizinhos não era um problema para Pequim, mas quando tal movimento de renascimento cultural chegou ao solo chines, o mesmo fora duramente reprimido.
O que podemos dizer, é que no mínimo, houve um, mas certamente podemos especular que devem haver muito mais, porém, como informações nessas situações são sempre fragmentadas, infelizmente não poderia dar uma resposta completa. Peço desculpas e agradeço o seu tempo em ler e questionar nosso texto.
Daniel Nunes Ferreira Junior
Boa tarde,
ResponderExcluirÓtimo texto, muito atual, bem escrito.
Gostaria de perguntar-vos sobre as implicações internacionais para a China, inclusive o que pensam sobre a ameaça de mais sanções por parte dos EUA e os impactos no agravar da guerra comercial, devido as acusações de violações dos direitos humanos, inclundo a possível ruptura de acordos comerciais com a região de Xinjiang.
Obrigada.
Daniele Prozczinski
Ola Daniele, agradecemos os elogios.
ExcluirPequim agiu de forma muito assertiva quanto as críticas direcionadas a suas práticas em Xinjiang. Ao ser criticada por um embaixador turco, a resposta foi "A China sempre busca um benefício mútuo com seus amigos, mas amigos não atacam os outros, e se atacam, talvez não mais mereçam a amizade chinesa"
Quanto a guerra comercial, temos de lembrar que ela não é apenas econômica, mas é estratégica, geopolítica e partidária.
Econômica: a China de fato tirou vantagens dos Estados Unidos, o que é mais irônico, é que ordem global foi estabelecida para que o contrário ocorresse sempre.
Geopolítico: esse conflito nada mais é que a superfície de movimentos tectônicos muito maiores. Gosto de chamar a guerra comercial de "o atrito da ultrapassagem", pois ela nada mais é que a versão publicitada da lenta e continua derrota dos Estados Unidos pela China e de certa forma, também é versão mais popular da reação estadunidense. Desdo fim da gestão Obama Pequim se tornou um alvo a ser contido, a frota do pacífico não para de crescer, assim como a força defensiva da China. Quanto a rupturas comercias, não podemos esquecer que ambos são ao mesmo tempo, parceiros e rivais. O fluxo comercial de ambos é gigantesco e agora com a China não mais comprando produtos alimentícios dos Estados Unidos, vai atingir diretamente o coração dessa gestão, o eleitorado.
Partidário: Trump está em campanha e um dos inimigos criados por ele era a China, ele, em última medida, está "estampando sua peça publicitária" para a próxima eleição, algo como "vejam como eu lutei contra CHINA. Até pq, em termos de poder, nenhum dos dois estão jogando a sério, as taxas, por incrível que possa parecer, são as medidas menos efetivas e prejudiciais, mas por outro lado, são as mais fáceis de serem publicizadas.
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Muito Obrigado pela pergunta, espero ter respondido de forma adequada.
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Daniel Nunes Ferreira Junior
Muito obrigada pela resposta Daniel. Muito sucesso em pesquisas futuras.
ExcluirAtt.,
Daniele Prozczinski
Boa noite, Daniel e Lucas
ResponderExcluirParabenizo os dois pelo excelente e inovador artigo!
Sobre a perseguição ao povo de etnia turca na província de Xinjiang (China), como reagiram diplomaticamente os países que possuem parcelas significativas de turcos em suas populações, especialmente os situados na Ásia Central (tais como, Azerbaijão, Cazaquistão, Uzbequistão, Quirquistão e Turcomenistão) e por fim a Turquia no Oriente Médio? E qual a posição da ONU frente a este evento, e as respectivas medidas tomadas por este órgão?
Matheus Henrique da Silva Alcãntara
Agradecemos Mateus. Ótima questão, se houvesse mais espaço, essa pergunta seria um capítulo do artigo.
ExcluirOs países da Ásia central estão cada vez mais dentro da esfera de influência chinesa, a Belt and Road Initiative vem desenvolvendo esses países de forma acelerada, ao mesmo tempo, também os transforma em dependentes da China.
Pequim já deixou claro que não aceitará críticas a forma que lida com sua população, então, esses países se sentem coagidos, imaginando que ao se posicionarem contra seu maior parceiro, possam sofrer retalhações. Algo que provavelmente ocorreria.
Mas há outra questão também, o que eles ganham, pragmaticamente, defendendo os Turcomanos Chineses? A resposta é, nada. No fim do dia, os países nada ganhariam por comprar esse briga, logo, não compram.
Alerto também que essa mesma pergunta poderia ser feita para os países muçulmanos, na verdade, ser muçulmano talvez ajuda mais do que ser turco, digo isso, pois, o soft power vindo da religião é maior que da nacionalidade/língua.
O único player de médio porte que poderia ter algum peso é a Turquia, já quando falamos de religião, Arabia Saudita, Irã estão muito mais engajado no soft power vindo da questão muçulmana que a turquia está na questão nacional.
A Turquia já criticou publicamente a China, mas a resposta chinesa foi assertiva "fazemos comercio com amigos, mas amigos não ofendem outros"
Quanto a ONU, temos de lembrar, a ação Chinesa se iniciou com a Guerra ao Terror estadunidense, então, das inúmeras vezes que foram mandados observadores da ONU para ver a situação, eles eram escoltados e só ia em locais do qual Pequim tinha previamente liberado. Sendo assim, diplomaticamente, a China alega que Xinjiang é um território com alta volatilidade terrorista, mesmo que terrorismo não ocorra há muito tempo, mas para eles, não ocorrem, pois, a China "vem fazendo sua parte".
É um tema muito rico e como dissemos, muito pouco trabalhado, claro, diversos fatores, o acesso à informação não é um incentivador, mas esperamos ter conseguido ter dado alguma contribuição ou até mesmo um "start" na temática, pelo menos em língua portuguesa.
Matheus, agradecemos os elogios, a ótima pergunta e o tempo por ler nosso texto.
Daniel Nunes Ferreira Junior
Agradeço o esclarecimento meu colega!
ExcluirAtenciosamente, M.H.S.A.
Bom dia!
ResponderExcluirPrimeiramente, parabenizo vocês pelo ótimo texto, fluído e muito bem redigido.
Em segundo lugar, acerca das fontes utilizadas, vocês tem, conseguiram acesso ou sabem a respeito de algum relato registrado de algum cidadão que vivenciou os campos de "reeducação"?
Caso sim, qual foi a reação da do governo Chinês à essa publicação?
Caso não, se houvesse o acesso/publicação de tal tipo de testemunho, na opinião de vocês, qual seria a reação da China à esse "vazamento"?
Sofia Alves Cândido da Silva
Bom Dia Sofia, agradeço imensamente os elogios.
ExcluirNa fonte utilizada [relatórios da HRW] existem relatos de "ex-detentos", na verdade, existem inúmeros também na mídia internacional. Optei por usar a HRW, principalmente pelo profissionalismo da instituição, mas não há dúvida que a mídia está repleta deles. A NYT, Washington Post, possuem diversos desses relatos e reportagens a respeito do tema, obviamente, voltado ao público deles, não são artigos propriamente "científicos". Muitas vezes eles buscam apenas informar e não explicar, o que não é, necessariamente, um problema.
A resposta vinda de Pequim é protocolar "A mídia ocidental insiste em nos demonizar, obedecendo a interesses daqueles que não querem ver o desenvolvimento chinês. Diversas visitas das Nações Unidas já ocorreram e nada do que foi descrito pela mídia se constatou" É basicamente isso que eles dizem. Em parte eles possuem razão, muitas vezes os jornais buscam justificar as ações Chinesas de forma maniqueísta, "fazem isso, pois, são malvados", talvez, até mesmo seguindo orientações "daqueles que não querem ver o desenvolvimento chinês"
A despeito das narrativas criadas, não vejo forma de racionalmente negar secundarização da humanidade dos turcomanos-chineses. O que busquei e espero ter minimamente conseguido, é ter fugido da dicotomia e explicar que há interesses geopolíticos por trás das ações. Obvio que também não sou neutro nesse cenário, não é existência de uma justificativa que irá legitimar as ações.
Sofia, acredito ter respondido suas questões. Caso não, ou, havendo outras, pode mandar.
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Daniel Nunes Ferreira Junior