COMPACTUAÇÃO
MUNDIAL DO PERÍODO MEIJI: CONSTITUIÇÃO DA MODERNIDADE JAPONESA
Josiane
Araujo Rocha
Introdução
O Japão constitui-se de uma periodização própria, pela qual
não segue o mesmo padrão da Europa enquanto modernidade e até mesmo revoluções.
Sua antiguidade é formada por períodos como Jamon, Yayoi, Yamato, Kofun, Asuka,
entre outros que sucederam o paleolítico japonês também conhecido como período
pré-Jamon. De 538 até 1185 inicia o período clássico Heian, contendo muitas
influências chinesas de budismo e taoísmo, marcado também pela sua arte de
poesia e literatura antecedendo o período Kamakura 1192 á 1333 com o primeiro
Xogunato (força militar japonesa), encaminhando para a idade média que vai até
1603.
O samurai Minamoto no Yoritomo em 1185 gesticulou que seu
poder fosse formado pelo Xogum se tornando o primeiro general, visando a luta
contra os “bárbaros” que hoje foram extintos. O Xogum é a abreviação de Seii
Taixogum (grande general apaziguador do bárbaros) essa força militar já se
iniciou com características autoritárias, formado por um ditador que tinha
autoridade até mesmo sobre o imperador. O segundo Xogunato foi Ashikaga de
1338, seu fundador foi Ashikaga Takauji, o terceiro e último se deu o nome de
Tokugawa por Leyasu Tokugawa em 1603, o xogum foi abolido em 1868 quando o imperador
Meiji Mutsuhito toma o poder aos seus 15 anos de idade. No sistema feudal do
Japão na idade média se distinguiu do ocidente por várias características,
sendo que era operado pela administração civil central tradicional, tinha uma
relação mais familiar ao se dizerem senhor e vassalo, formavam uma sociedade
independente que continham seus próprios costumes.
I.
O ano de 2018 completou os 150 anos da restauração Meiji,
grande marco na história japonesa no ano de 1865. Esse evento político e
cultural da sociedade levou o Japão do período feudal para um estado nacional
moderno, que por 200 anos em meados do século XIX ficou isolado do mundo, as
pessoas não tinham permissão para entrar ou sair do país, aos que não cumpriam
as leis eram condenados à pena de morte. Em 1620 o cristianismo é banido se
fechando sobre sua própria cultura, crença e política. De 1603 até 1868 existe
o período Edo que correspondia a capital do Japão que hoje é conhecida como
Tóquio. Nessa época já se estabelecia a modernidade na historiografia ocidental
pela qual conhecemos.
Os Estados Unidos com sua frota chegou em 1853 na região da
Baía de Edo liderada pelo Comodoro Mettew Perry, obrigando o Japão a negociar
no âmbito econômico, fizeram ameaças de serem bombardeados, pela qual o Japão acabou
sedento, pois não possuíam armamento e força marítima suficiente na época. A
“diplomacia da Canhoneira” era um imperialismo do século XIX até o século XX
que com sua força militar naval forçavam os país inferiores a negociarem, foi
utilizado esse método não só contra o Japão mais em diversos locais. Para
evitarem as humilhações diante de todos, aceitaram assinando o primeiro do oito
tratados desiguais, Tokugawa apostou nas forças armadas para as novas reformas
e modernizações, com isso a França, Rússia, EUA e Reino Unido passaram a
treinar as tropas japonesas, construíram fábricas de armamento e iniciaram as
compras de navios modernos.
Houve muitas discordâncias acerca das reformas devido ao
imperador Kômei manter sua lealdade ao xogum, mas em 30 de janeiro de 1867 ele
morre dando lugar ao imperador Mutsuhito que assume um poder sobre os demais
forçando o xogum a renunciar, em 1868 Mutsuhito ganha o nome de Meiji
governando até 1912 com sua morte. Ao tentarem impedir que um novo xogunato se
constituísse culminou em uma guerra civil conhecida como Boshin.
II.
As reformas da Era Meiji foram bem variadas em termos como
“propostas centralizadas” e “propostas liberais”, o sistema conhecido como Han
parou de existir, a sociedade japonesa começou a ser ocidentalizada pelas
necessidades e ânsia de se tornar uma potência mundial como alguns país da
Europa, como é demostrado no livro História do Japão:
“Eram inúmeras e muitas vezes desconcertantes as mudanças na
vida quotidiana inspiradas no Ocidente. Em 1 de janeiro de 1873, foi adaptado o
calendário solar (gregoriano) em vez do velho calendário lunar, o que significa
que as datas avançavam agora entre três e seis semanas por ano. Os telégrafos
começaram a operar em 1869 e o serviço postal em 1871. A partir do início da
década de 1870, proliferaram os jornais modernos e, testemunho do alto grau de
alfabetização do país, em 1875 estavam em circulação mais de cem. O vestuário
ocidental tornou-se moda entre os progressistas e em 1872 tornou-se obrigatório
para as autoridades governamentais (inclusive em ocasiões de cerimonia) e
funcionários públicos, como os carteiros. Os cortes de cabelos ocidentais
também foram progressivamente adaptados, tornando-se num símbolo de
modernidade. Comer bifes também se tornou popular entre os progressistas,
surgindo restaurantes especializados em fornecê-los a estes e a um número
crescente de estrangeiros. Foi a partir desse hábito de comer bifes que se
desenvolveu o prato de sukiyaki, supostamente tradicional”. (HENSHALL, 2018, p.
114).
Os chefes dos clãs passaram a terem suas terras confiscadas
para o aumento de produtividade dos campos, os antigos passaram a ser
prefeituras e somente os que apoiavam o fim do xogunato eram beneficiados, os
Zaibatsu tinham direitos de possuir grandes negócios que hoje são muito
conhecidos para a cooperação econômica japonesa como Kawasaki, Nissan,
Mitsubishi e Mitsu e co. Com a restauração Meiji, a segunda revolução
industrial chega ao país, foi se tornando uma potência industrial e comercial
no mundo, tinha como característica o nacionalismo, objetivando seu maior
desejo de ter sucesso enquanto sociedade.
Em termos religiosos do Xintoísmo virou uma crença
tradicional desde o século VIII, que logo após sofreu intervenções
governamentais para eliminar as características budistas e chinesas, muitos
templos budistas foram destruídos e várias pessoas que discordavam dessas ações
foram assassinadas. O cristianismo foi permitido novamente e era maioria nesse
período do Japão.
O exército nacional Japonês que se deu pelo pensamento
nacionalista, constituía-se de jovens que serviriam o exército por 2 anos e
mais 2 anos na reserva, faziam também intercâmbio em outros países, a maioria
eram os samurai de clãs abolidos que logo após perderam muitos de seus direitos
por não concordarem com as decisões do governo, os samurai iniciaram uma
rebelião de Satsuma em 1877, no entanto foram derrotados e abolidos, aos que
aceitaram a restauração Meiji foram recompensados.
Na política houve o constitucionalismo prussiano, tornando o
país um estado central forte, em 1877 foi fundado o banco central japonês, as
indústrias eram formadas e lideradas por pessoas com tais especificações que
eram protegidas politicamente, enviavam as mercadorias para uma família que em
sua casa customizavam os produtos e enviam de volta as indústrias para serem
vendidas, assim 53% das indústrias constituíam-se.
III.
Em 1890 o Japão passa a ter uma constituição, se inspirando
no império alemão, iniciaram invasões na China em 1937 e Coréia se expandindo
por várias regiões, praticavam massacres e faziam dos povos seus servos e no
ano de 1910 conseguiram conquistar a Coréia. Em 1912 o imperador Meiji
Mutsuhito morre, com isso se resulta em uma luta de poder interno e o Japão
começa a ser representado por algumas pessoas e não uma só, o sistema Versalhes
pós primeira guerra mundial foi que culminou nessa ideia de vários líderes,
passa a se tonar um país fascista.
O Japão entra em crise devido a alguns fatores como o
terremoto Kanto de 1923, e inicia um mercado mobiliado mais complicado pelo
espaço limitado que possui, diante dessa grande crise de 1929 o Japão se decide
a seguir um caminho com as forças armadas fascistas, em 1936 faz um pacto com a
Alemanha formando o eixo que visavam o anticomunismo e um inimigo comum, a
União Soviética. No ano de 1938 o Japão proclama uma nova ordem na Ásia
oriental, tenta invadir a Mongólia para enfraquecer os soviéticos, acabam
derrotados pelos soviéticos pela batalha de Kaquel gol e a partir de então,
passaram a temer os soviéticos assinando termos de não agressão.
Em 1941 Stalin envia tropas para Moscou para lutarem contra
os alemães, pois sabiam que os japoneses não iriam atacar, a batalha de Kaquel
gol praticamente decidiu a segunda guerra mundial. Os japoneses passam a
caminhar para o pacífico, tinham como intenção tomar as índias orientais
holandesas (Indonésia) e para isso decidiu atacar a base americana no Avaí.
Conclusão
No dia 7 de dezembro os Estados Unidos oficialmente entra na
guerra e o Japão está em várias guerras continental marítima, em 1943 tem boa
parte da frota destruída na batalha guadacanal nas ilhas de Salomão, mesmo
ainda diante das derrotas ainda persistia na China considerando-se superiores.
Com isso os EUA saíram vitoriosos da guerra contra o Japão culminando no fim da
segunda guerra mundial.
“A vitória final dos Estados Unidos modificou de modo a
situação para os japoneses. A sua derrota final acarretou, como de hábito na
vida japonesa, o abandono dos caminhos que vinham seguindo. A ética peculiar
dos japoneses permitiu-lhe limpar o quadro-negro. O plano de ação dos Estados
Unidos e a administração do general Mac Arthur evitaram que fossem escritos
novos símbolos de humilhação no quadro-negro apagado, limitando-se simplesmente
a insistir nas coisas que os olhos japoneses são as ‘consequências naturais’ da
derrota. Deus resultado.” (BEBEDICT, 1972, p. 259).
Com o fim da guerra o Japão sofreu em diversos setores, pois
tiveram várias cidades destruídas pelos americanos, decidiram fazer mudanças
sociais pela qual notaram o erro que foi a guerra, tentaram formar uma nova
sociedade visando nas tecnologias que hoje conhecemos, obtendo muito
crescimento nesse âmbito econômico.
Referências
Josiane Araujo Rocha, Graduando Licenciatura em História pela
Universidade Estadual de Maringá (UEM).
HENSHALL, Kenneth. História do Japão: História e Narrativa. Edição 70.
2.ed., Lisboa: 2008.
BENEDICT, Ruth. O Crisântemo e a Espada: Padrões da Cultura Japonesa.
Perspectiva, São Paulo: 1972.
MASSAE SASAKI, Elisa. Estudos de Japonologia no Período Meiji: Estudos
Japoneses. São Paulo: 2017.
FIGUEIREDO, Filipe. Japão Meiji Nerdologia: Ciência e Tecnologia.
Estúdio 42: 2018. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=uncLQV4Y3_s.
Acesso em: 10 jul. 2019.
EISENSTADT S. N. Modernidade Japonesa: A primeira modernidade múltipla
não ocidental. In Dados revista de ciências sociais. Rio de Janeiro: UERJ.
2010. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=21817694002.
Acesso em: 10 jul. 2019.
Parabéns Josiane pelo seu ótimo texto. É até meio triste ver como que o japão foi forçado a largar certos modos do seu país para se encaixar nos negócios com outros países como por exemplo os EUA. Mas um assunto que me chamou atenção e me gerou uma dúvida é sobre os Bárbaros que travaram batalhas contra o chamado Xogum (1185) quais eram esses povos?
ResponderExcluirFernando Dantas da Rocha
Olá Fernando, obrigada pelo questionamento. Os povos Emishi considerados “bárbaros” pelos japoneses (Yamatos) viviam na região norte do Japão, hoje extintos. No Japão existe os Yamatos e mais duas etnias além dos Emishi. Os primeiros relatos da existência dos Emishi foram datados no ano de 400, ainda existe muitos questionamentos entre historiadores acerca de seu parentesco, alguns dizem ser descendentes dos Jamon, outros acreditam que são parentes dos Ainu. O xogum era designado para combater possíveis ataques e invasões bárbaras, já que era considerado “General Apaziguador dos Bárbaros”. No entanto, os Emishi resistiram a alguns ataques, após 802 as guerras tinham diminuído e alguns grupos se entregaram, mas com seus povos reduzidos a cada batalha foram derrotados, com o tempo seu espaço foi completamente tomado e acabaram extintos.
ExcluirJosiane Araujo Rocha
Olá Josiane, vc poderia fazer uma relação entre os países do eixo e suas tardias revoluções: Itália, Alemanha e Japão sec. XIX, uma tentativa de superar o atraso da evolução nocional?
ResponderExcluirRafael Ramos Teixeira
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns Josiane, excelente trabalho, muito interessante a história do Japão, o que me chamou a atenção enquanto eu lia, que percebo que a história do Japão contada na escola é muito superficial, você concorda? Qual sua sugestão ou motivação para que fizesse com que os professores de História se aprofundassem mais no assunto?
ResponderExcluirObrigada
Talita Souza da Rocha Rebello
Olá Talita, obrigada pelo seu comentário. Concordo plenamente com você nesse aspecto, ainda há muito o que avançar na educação acerca da amplitude de culturas espalhadas ao nosso redor, entender ainda mais o contexto histórico de cada região é muito importante, mesmo estando limitado pela quantidade existente. Acredito que agora conhecendo um pouco mais sobre o Japão, é notável a riqueza de sua história para entendermos ainda mais sobre a humanidade em geral e assim como a História da África dentre outras não são muito discutidas em sala de aula, a minha sugestão seria a de mudanças em materiais escolares primeiramente, mas como não depende apenas dos educadores, sugiro aos professores por pouco que seja, dialogar com os alunos sobre as culturas não ou menos estudadas nas escolas levando-os a se questionarem, apresentar materiais adicionais para pesquisas como livros, vídeos, sites e etc., acredito que esses trabalhos complementares também são cruciais para acadêmicos e pesquisadores, pois ampliam os materiais que abordam conteúdos fundamentais da nossa história.
ExcluirJosiane Araujo Rocha
Boa noite, muito legal o seu trabalho. Com relação ao inicio da Era Meiji. O xogum tinha uma autoridade sobre o imperador? Era um ou mais de um? Aparentemente foi um processo de centralização muito rápido, enquanto no ocidente demorou alguns séculos. Obrigado Marlon Barcelos Ferreira
ResponderExcluirOlá, boa noite. A Era Meiji é justamente o período em que ocorre o fim do xogunato e o Japão começa a ser uma potência mundial. Do período feudal até a modernidade japonesa existiram três xogunatos, tinha muita semelhança com o feudalismo mais conhecido no ocidente, porém japonês. O chamado Xogum era um general ditador militar, pelo qual muitos povos independentes o obedecia, o Xogum tinha um grande poder e muitas vezes mostravam-se superiores até mesmo sobre imperadores até a chegada de Mutsuhito que impôs o fim do xogunato. A existência do xogunato vai de 1185 até 1868, de 1603 à 1868 existe o período Tokugawa conhecido como período Edo em que o Japão se fecha dos demais países, nessa periodização o ocidente já haviam entrado para a idade moderna. Existiu muitos imperadores em todo o período de história do Japão, o xogum era designado a parte para proteger ou atacar como um regime ditatorial, caracterizando o feudalismo japonês.
ExcluirJosiane Araujo Rocha
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