BREVE
RECONSTRUÇÃO DO ASSENTAMENTO DOS PORTUGUESES NO SUDESTE ASIÁTICO E PRIMEIROS
ANOS DA COLONIZAÇÃO TIMORENSE
Alberto Fidalgo Castro
Introdução: começos de
navegações e a expansão portuguesa
As razões que levaram portugueses e espanhóis a
iniciar uma corrida frenética de navegações pelo mundo entre o final do século
XV e o início do século XVI são certamente complexas e nelas convergem fatores
religiosos, econômicos, estratégicos e políticos. (BOXER, 1960, p. 40).
Geralmente aceita-se o ano 1498, quando Vasco de Gama
chega a Calicute, como a data que marca o começo do que mais tarde se
converteria no Império Português da Ásia. Um ano depois de Bartolomeu Dias
ultrapassar o Cabo da Boa Esperança, foi estabelecida a rota marítima das
especiarias, que evitava o monopólio das rotas pelo Mar Mediterrâneo e cujos portos
de destino eram principalmente os das cidades italianas, com Veneza à frente.
No entanto, é Afonso de Albuquerque e não Vasco de Gama, quem conseguiu
estabelecer definitivamente aos portugueses na Ásia. A conquista de Goa em 1510
e, especialmente, a do Sultanato de Malaca em sucessivos momentos de 1511 foram
os primeiros passos da subsequente expansão portuguesa.
O reino islâmico
de Malaca se tornou o entreposto hegemônico do comércio no Sudeste Asiático
durante o século XV (THOMAZ, 1975, 1976, p. 75, 1993; VALENZUELA GARCÍA,
2006, p. 75), durante este
tempo, foi protegido pela dinastia Ming, porque era uma localização estratégica
na rota que ligava o Mar do Sul da China com as ilhas do arquipélago indonésio (PTAK, 1987, p. 92). Os
portugueses conseguiram, com a conquista de Malaca, conhecer as rotas regionais
e os mecanismos de comércio na área, pois ela era uma grande cidade portuária
—com uma população entre cem mil e duzentos mil habitantes— com um porto
cosmopolita no qual chegavam muitos marinheiros (THOMAZ, 1993, p. 71). É a partir
desse momento que Afonso de Albuquerque começa a enviar expedições pela região
para tentar estabelecer contatos comerciais e alianças com soberanos locais
para fortalecer a presença portuguesa. Uma das estratégias que usou, quando
finalmente recuperou o controle de Goa após a sua viagem a Malaca, foi promover
casamentos mistos entre mulheres locais e portugueses para obter descendentes
mestiços, leais a Portugal, mas sem desejo de regressar à metrópole (BOXER, 1954). Os portugueses continuaram ao longo da colonização
asiática esta política de miscigenação, que teve capítulos de importância fundamental
para a história de Timor, como o surgimento dos topasses ou "portugueses
negros" (BOXER, 1947; HÄGERDAL, [s.d.]).
Além disso, os portugueses reforçaram alianças com as sociedades locais para
garantir sua ajuda e fomentaram conflitos e tensões entre eles para garantir o
sucesso de sua colonização na Ásia (SCAMMELL, 1980).
Durante a primeira estadia de Albuquerque em Malaca
encontramos a primeira fonte portuguesa que faz referência a Timor, resultado
da expedição de António de Abreu às "ilhas das especiarias" (novembro
de 1511 a dezembro de 1512). É um mapa desenhado por Francisco Rodrigues em
1512 em que uma ilha é representada sob o comentário "ilha de Timor onde
nasce o sândalo" (DURAND, 2010, p. 52). De Malaca é também enviada a segunda referência que
encontramos a Timor, desta vez numa carta de 1514 escrita por Rui de Brito ao
rei D. Manuel de Portugal: “he hûa Mia Ylha alem de Java. Tem muitos sândalos,
muito meti, muita cera” (CINATTI, 1950). Já em 1515, na sua “Suma Oriental”, Tomé Pires
começa a desvendar as redes comerciais com Timor e faz uma descrição do tipo de
comércio que ocorre com a ilha: “Entre as ilhas de Bíma e de Solor se faz um
canal grande por onde vão às ilhas dos Sândalos. Todas as ilhas de Java para
diante se chamam Timor, porque na linguagem da terra Timor quer dizer levante,
como se dissessem as ilhas do levante. Por principal se chamam as ilhas de
Timor estas duas donde vêm os sândalos” (CINATTI, 1950). A partir daí, as referências a Timor serão
contínuas. No entanto, não há registro escrito da primeira chegada dos
portugueses, embora Loureiro proponha que deve ter ocorrido entre 1514 ou 1515 (LOUREIRO, 2001, p.
146).
A expedição de
Magalhães-Elcano
O primeiro registro escrito do contato direto dos europeus com Timor pode
ser encontrado no diário de Antônio Pigafetta, escrito durante a expedição de
Magalhaes e Elcano (setembro de 1519 a novembro de 1522). Magalhães era um
conhecedor das índias portuguesas, tendo servido sob o comando de Albuquerque
durante a conquista de Goa e fez parte da primeira expedição a Malaca em 1509,
bem como a viagem para as "ilhas de especiarias" (Molucas). A
expedição pretendia buscar uma rota alternativa de especiarias para o Novo
Mundo, já que o Cabo da Boa Esperança havia sido concedido a Portugal pelo
Tratado de Tordesilhas em 1494. Depois de completar a primeira circunavegação
do globo, a Espanha tentou quebrar o monopólio Português na Ásia. As lutas pelo controle das Molucas
foram resolvidas (pelo menos nominalmente) com o Tratado de Saragoça de 1529,
no qual Carlos I vendeu os direitos sobre as Ilhas Molucas para Portugal,
obtendo as Filipinas no acordo (DÍAZ-TRECHUELO, 1994).
Este tratado também aprovou a presença nas Molucas dos espanhóis, que foram
autorizados a se estabelecer na ilha de Maquien, tirada do sultão de Ternate;
no entanto, foi estipulado que a Espanha não seria autorizada a negociar com os
locais ou aliar-se a eles contra os portugueses (SCAMMELL, 1980). A
presença dos portugueses nas "ilhas das especiarias" estende-se de
1511 a 1605, ano em que são expulsos do Tidore pela Companhia Holandesa das Índias
Orientais (Vereenigde Oost-Indische Compagnie, VOC) (FRADE, 1999).
Em sua primeira viagem ao redor do globo,
Pigafetta descreve a chegada da nau Victoria a Timor para estocar em 25 de
janeiro de 1522; sairia em 11 de fevereiro do mesmo ano. Como curiosidade,
deve-se notar que dois tripulantes fugiram do Victoria em Timor após uma briga
no navio em 4 de fevereiro de 1522 (SÁNCHEZ-PEDREÑO,
2003). Essas duas pessoas, Martín de Ayamonte e
Bartolomeu de Saldanha, foram posteriormente capturados pelos
portugueses e levados para Malaca para interrogatório. Embora breve, a
descrição nos oferece informações úteis sobre a ilha. Confirma a existência de
uma rede comercial com comerciantes de Java e Malaca, interessados principalmente em sândalo, e os tipos de objetos através dos quais
foi trocado: tecido vermelho, tecidos, machados, pregos e ferro. Ele também faz
uma pequena lista das colheitas e animais que encontra no momento de sua
chegada. Quanto aos animais, ele nos fala sobre búfalos, porcos, cabras,
galinhas e papagaios de cores diferentes; enquanto em relação às culturas
menciona arroz, banana, gengibre, cana-de-açúcar, laranja, limão, amêndoa e
feijão. Estes dados que nos oferece são especialmente interessantes porque
confirmam a existência de alguns produtos antes da sua introdução pelos
holandeses e portugueses, e têm sido inestimáveis na tentativa de datar a sua presença na ilha. É o caso do arroz,
cereal que constitui uma das bases da atual dieta de Timor Leste.
Também de relevância é a referência a ornamentos de
ourives, como brincos de ouro e seda, pulseiras e "placas de ouro
redondas". Alguns desses elementos continuam, centenas de anos depois,
mantendo uma posição central dentro da prática ritual do país. Embora seja difícil
determinar, é provável que os objetos referidos Pigafetta sejam,
respectivamente, kelu ou keke (braceletes), ou belak (uma espécie de disco
medalhas de metal), que são amplamente usados nos vestuários locais.
Atualmente, muitos objetos considerados sagrados ou cujo uso se restringe a
contextos cerimoniais têm origem tanto nos considerados nativos de Timor como
nos introduzidos pelas colonizações portuguesas e holandesas. É comum encontrar
bengalas portuguesas (conhecidas como rota em tétum), uniformes militares
portugueses, bandeiras portuguesas, moedas holandesas ou mexicanas. Estas
últimas mexicanas chegavam das Filipinas via o galeão Manila (RODAO, 2002, p. 22), embora, segundo Andrés del Castillo (comunicação
pessoal, também mencionado em ZAID, 2006) muitos seria realmente do falsificações chinesas feitas nessa época.
Do mesmo modo, a descrição de Pigafetta é a segunda
fonte em que se faz referência à maneira como os timorenses interagiam com o
meio ambiente: "Usos e crenças. - Essas pessoas são gentios. Eles nos
disseram que, quando vão cortar o sândalo, o diabo aparece para eles de
maneiras diferentes e lhes pergunta muito educadamente se precisam de alguma
coisa; mas, apesar dessa cortesia, sua aparência lhes dá tanto medo, que
adoecem por alguns dias. Eles cortam o sândalo em certas fases da Lua, para torná-lo
melhor" (PIGAFETTA, 1922, pp.
176–177).
Além do diário de Pigafetta, há outra fonte de
expedição de Magalhães escrita por Francisco Albo sob o nome diário “Diario del
viage de Magallanes desde el cabo de S. Agustín, en el Brasil, hasta el
regreso á España de la nao Victoria”. Embora seja um diário de navegação
técnico, ele fornece algumas informações que Pigafetta não indica. O ponto de
maior interesse no seu diário está na seguinte frase: “y esta isla de Timor
costeamos toda la costa de leste oeste, hasta el pueblo de Manvay, y primero
llegamos al pueblo de la Queru, y de la Queru a Manvay corre la costa nordeste
sudeste cuarta del norte sur y aquí tomé el sol á 5 dias del mes de Febrero” (ALBO, 1837, p. 226).
Portugal durante a
dinastia dos Habsburgos
Outro momento de muita relevância para entender a
posterior partição colonial de Timor que me parece necessário assinalar foi a
unificação das coroas ibéricas durante os Habsburgos (Filipe II, III e IV,
1580-1668). As causas que levaram à unificação das coroas são muito complexas e
sua análise não faz parte do nosso trabalho. Estamos interessados, no entanto,
em apontar o impacto que esse evento político teve sobre o comércio e as posses
portuguesas na Ásia.
Disney aponta como, efetivamente, a unificação com os
Habsburgos teve consequências importantes (DISNEY, 2009, pp.
208–212). Antes dela, Portugal mantinha relações comerciais
fluidas com holandeses e britânicos, que eram seus principais compradores de
mercadorias trazidas das Índias. A integração na Espanha fez com que esses
relacionamentos fossem seriamente danificados. A Espanha estava envolvida na
Guerra dos Oitenta Anos com a Holanda e, em 1581, as Províncias Unidas já
haviam declarado sua independência de Filipe II. A pirataria inglesa, por outro
lado, atacou sistematicamente os navios espanhóis vindos das Índias sob a proteção
da rainha. Além disso, a Inglaterra apoiou António Filipe na frente de Felipe
II em sua reivindicação ao trono português. Por outro lado, no reinado de
Enrique VIII a Igreja Inglesa separou-se da de Roma e, após o breve regresso ao
catolicismo durante o reinado de Bloody Mary, Isabel I retomou o
protestantismo. Neste contexto, houve a Guerra Anglo-Espanhola de 1585-1604,
durante a qual, entre muitos outros eventos, ocorreu o desastre da Armada
Invencível (1588), em cuja criação os portugueses participaram ativamente como
parte da coroa espanhola, depois disso perderam grande capacidade naval (DURAND, 2010, p. 159).
Mas talvez o mais importante sejam os sucessivos
embargos que desde 1585 foram impostos por Madri —a corte havia se mudado para
Madri apenas 24 anos atrás (1561)— para o comércio português com a Holanda e a
Inglaterra. Os historiadores (DISNEY, 2009; PARKER,
1995) parecem concordar em apontar como esses bloqueios
foram o que levaram os ingleses e holandeses a embarcarem nas perigosas
navegações asiáticas. O resultado foi a Companhia Britânica das Índias
Orientais (East India Company, EIC) em 1600 e a Companhia Holandesa das Índias
Orientais em 1602 (Vereenigde
Oost-Indische Compagnie, VOC), que tirou
dos portugueses a maioria das suas posições na Ásia. De fato, ambas as empresas
chegaram a um acordo para assumir as posses asiáticas de Portugal (OLIVEIRA, 2003).
Na época da separação das coroas ibéricas, a hegemonia
portuguesa na Ásia havia sido definitivamente perdida. O Cabo da Boa Esperança,
um ponto chave para a rota das especiarias, já não era uma rota segura, e
assim, durante os últimos anos da dinastia dos Habsburgos em Portugal, parte do
comércio foi realizado através das Filipinas-Acapulco (DISNEY, 2009, p. 209) pela rota do galeão Manila (BOXER, 1958). Desde a sua chegada e estabelecimento em Batavia
(atual Jacarta), a VOC estava atacando os postos portugueses, que foram
arrebatados, durante o século XVI, muitas de suas posses no Sudeste Asiático:
Ambon em 1605, Banda em 1609, Celebes em 1667, Ternate em 1615; Ceilão (Sri
Lanka) em 1660 e Malaca em 1641 (RODAO,
2002, p. 28).
A
coroa Português ainda não tinha assentado no século XVI na região das ilhas
menores de Sonda (na que se inclui Timor), e o comércio nelas foi feito desde
otras bases portuárias em visitas pouco frqüentes, principalmente desde Malaca
ou Makassar. A principal base portuguesa nesta área não foi criado pela coroa,
mas pela ordem religiosa dos dominicanos, que construíram uma fortaleza na ilha
de Solor em 1566. O forte de Solor foi atacado por poderes regionais
(especialmente makasarenses) e ele sofreu rebeliões nativas até que os
portugueses o perderam em 1613, quando foram atacados pela VOC. Após este
primeiro ataque, a comunidade de solorense estabeleceu a sua base principal em
Larantuka, na parte oriental da ilha das Flores. O forte tornou-se um centro de
evangelização e de comércio com as ilhas da região, e em torno dele nasceu uma
comunidade de mestiços conhecidos como larantuqueiros, Topasses ou
"portugueses negros" (BOXER, 1947; HÄGERDAL,
2007a, 2007b, 2012).
A colonização portuguesa da Ásia difere grandemente
daquela que a VOC ou a EIC realizaram. As duas eram empresas privadas, não
estados, e seu interesse era eminentemente econômico. A colonização portuguesa,
além de um objetivo econômico muito menos institucionalizado, tinha o objetivo
da evangelização católica da mesma forma. Às vezes falamos sobre a fraqueza da
colonização do Estado pelos portugueses na Ásia e tendemos a esquecer que a
Igreja Católica Portuguesa também colonizou em nome de Portugal. Tal é o caso,
como já assinalamos, dos dominicanos na região de Timor. A presença do Estado
Português foi fraco nessa área e, de fato, as pequenas ilhas de Sonda não foram
sequer listadas como possessões portuguesas em 1681 (ANDAYA, 2010, p. 393;
VILLIERS, 1986, p. 38). No entanto, a presença da ordem dos dominicanos
(além de outras ordens religiosas), assim como a de marinheiros portugueses
independentes, era uma constante nessa região. Foram eles que perpetuaram a
presença dos portugueses em Timor muito antes de o Estado português começar a
interessar-se genuinamente pela ilha, já no início do século XVIII. Assim,
quando a coroa portuguesa nomeou o primeiro governador de Timor, António Coelho
Guerreiro, em 1702, encontramos os topasses e as comunidades religiosas já bem
estabelecidas na ilha.
Durante o período em que os dominicanos se
estabeleceram em Solor, realizaram atividades evangelísticas e mantiveram o
comércio de sândalo com várias autoridades locais timorenses, bem como
tentaram, sem muito sucesso, estabelecer assentamentos, como a construção de
uma igreja em Mena (perto do atual distrito de Oecusse) em 1589, que foi
abandonado alguns anos mais tarde (DURAND, 2010, p. 54). Eles também procuraram realizar conversões entre os
reis locais e, em meados do século XVII, obtiveram os primeiros batismos na
área do atual distrito de Oecusse.
É a partir dos anos trinta e quarenta do século XVII
que uma presença efetiva dos portugueses (ou dos topasses) em Timor começa a se
estabelecer. As missões dos dominicanos começaram a ter as primeiras conversões
ao catolicismo de autoridades locais e iniciaram a construção de um forte na
baía de Kupang (Cupão), que logo será conquistada em 1653 pela VOC (e que hoje
em dia é a capital da província da indonésia de Nusa Tenggara Timur).
Considera-se que a colonização portuguesa de Timor é, no princípio, resultado
da decadência do Estado da Índia no século XVI, e também da pressão que a VOC
foi impôs sob os portugueses nos vários lugares onde eles se instalaram
previamente. Alguns autores falam de um "império Português informal" (ANDAYA, 2010) para designar as diversas comunidades mistas que se
formaram após o declínio do Estado da Índia e que se manteve, em grande medida,
graças à presença dalguns portugueses na região, como é o caso dos topasses em
Timor, Flores e Solor.
Os topasses foram, estritamente falando, os primeiros
colonos "europeus" de Timor. Durante o século XVII foram constituídos
em uma terceira potência na ilha (e região) ao lado dos portugueses e
holandeses. Embora autodefinidos como portugueses e católicos e fieis ao rei de
Portugal, a sua relação com a coroa no Estado da Índia estava longe de ser de
concórdia, senão que houve entre eles grandes conflitos, que atingiu seu ponto
de tensão mais forte após a instalação da “finta” (imposto de capitação) pelos
portugueses. Um exemplo disso é o fato de que eles não aceitaram a autoridade
do primeiro governador Português de Timor enviado pela coroa, ou também que
obrigaram aos portugueses para mover a capital de Lifau (Oecusse) para Díli em
1769. Também nunca aceitaram as tentativas de domínio da VOC, que se instalara
em Kupang em 1653, e o conflito com essa empresa se tornaria outra constante.
No entanto, a influência dos topasses como potência na
ilha sofre um grave revés em 1741, depois da pesada derrota que os holandeses
infligiram a eles em uma batalha que ocorreu em Kupang. Depois desta derrota
numerosos reinos do sudoeste da ilha de Timor que eram aliados dos topasses
passaram a se unir com os holandeses baixo o contrato Paravicini (1576).
A hegemonia dos topasses em Timor foi reduzida à
medida que Portugal e Holanda aumentavam a sua presença na ilha. Desde meados
do século XVIII, após a batalha perdida contra o VOC em Kupang, até meados do
século XIX, viram o seu poder em Timor confinado ao enclave de Oecusse, e os
topasses das famílias Da Costa e De Hornay, uma vez considerada governantes de
facto de Timor, passaram a ser tratados como uns mais das distintas autoridades
locais pelas duas potências coloniais.
Logo destes primeiros contatos com europeus com a ilha
começou o longo processo de partição colonial, que deu lugar ao que hoje em dia
é uma parte mais da Indonésia e ao país de Timor-Leste.
Referências
bibliográficas
Alberto Fidalgo de Castro é doutor em Antropologia
pela Universidade da Coruña com a tese ‘Dinámicas políticas y económicas en el
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aldeia de Faulara’. Atualmente, desenvolve pesquisa no Departamento de
Antropologia da UnB como bolsista PNPD.
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Interessante este tema, já tinha lido sobre uma população portuguesa mestiça na Birmânia também, me parece que existem mais algumas outras no oriente em geral.
ResponderExcluirTiago Motta
Caro Maykon,
ExcluirMuito obrigado pelo seu comentário!
Muito interessante pois notamos diante da leitura o quanto essa colonização se diferenciou do continente Americano.Enquanto aqui em nosso continente evitaram essa miscigenação, no extremo oriente foi praticamente obrigatória.
ResponderExcluirLuciana dos Reis de Santana.
Cara Luciana,
ExcluirNo meu texto não pretendo sinalar que a miscigenação fora obrigatória, senão que foi uma táctica usada por alguma das lideranças militares para reforçar a presença da coroa portuguesa na região nos começos da colonização. Durante outros momentos da colonização do Timor a miscigenação foi vista dum jeito menos favorável.
Atenciosamente,
É salutar a temática abordada, sobretudo, pelo enfoque atribuído ao fator econômico( rotas comerciais, especiarias etc.). Uma vez que se percebe os interesses mercantilistas em voga, bem como às relações tecidas entre dominantes ( Portugueses ) e os subjugados ( povos nativos ).
ResponderExcluirMaykon Albuquerque Lacerda
Caro Maykon,
ExcluirMuito obrigado pelo seu comentário.
Quão interessante é a estratégia dos casamentos mistos como parte do chamado "império português informal". Pode-se dizer que, de fato, o marcador religioso era mais importante em termos de identidade do que o marcador étnico?
ResponderExcluirLía Rodriguez de la Vega
Prezada Lia.
ExcluirAcho que o marcador religioso era muito relevante na altura histórica, sim. Enquanto ao marcador étnico, considero que entendido em sentido estrito ele não existia na altura histórica. No entanto, acho que outras maneiras de entender a alteridade eram também muito importantes na ideia de o que significava a identidade portuguesa.
Atenciosamente,
Ola Alberto. Gostei muito de ler o seu trabalho, especialmente por ser um tema que sabemos tao pouco. Gostaria de saber mais sobre as trocas culturais entre esses povos, em funcao desse processo de coloniza;'ao. Obrigada.
ResponderExcluirNathalya Ferreira Raseira
Olá Nathalya,
ExcluirSob essa questao, refere-se às trocas entre eles ou deles com outros povos?
Olá Alberto! Me refiro às trocas entre eles.
ExcluirOlá Nathalya,
ResponderExcluirSob essa questao, refere-se às trocas entre eles ou deles com outros povos?
Ótima temática e excelente texto!
ResponderExcluirAlberto, poderíamos dizer que os topasses atingiram um certo grau de influência a ponto de chegarem a rivalizar com as potências europeias naquela região? Posteriormente quando essas potências europeias deixaram a região, os topasses assumiram um caráter de elite dominante?
Obrigado.
Bruno da Silva Ogeda
Olá Bruno,
ExcluirNa altura histórica na que os topasses colonizaram Timor eles não somente rivalizaram senão que foram uma potência por eles próprios. Inclusive se revoltaram contra os primeiros governadores enviados por Portugal para a província de Timor (c. 1700). No entanto, com o tempo foram perdendo relevância política frente a Portugal na ilha até finalmente ser considerados como autoridades locais nativas. A família De Hornay, de origem topasse, ficou como uma dessas autoridades e ate hoje em dia é uma elite local na região de Oecussi.
Atenciosamente,
Sebastião Vicente da Silva 8 de agosto de 2019
ResponderExcluirtiaoellbello@hotmail.com
Muito bom o texto falando da colonização e miscigenação portuguesa no oriente especialmente em málaga e Timnor Leste, além da miscigenação houve também a imposição cultural e econômica a exemplo do pacto colonial existente na América portuguesa?
Caro Sebastiao.
ExcluirTeve sim, somente que muito menor devido a que a presença portuguesa na regiao era menos forte.