A HONRA MESMO NA
TERRA ARRASADA: O ORGULHO JAPONÊS OBSERVADO NO ÉDITO IMPERIAL AO POVO DO JAPÃO
PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1945)
Pedro Antonio Saraiva
de Carvalho Pereira Francez
Introdução
A Segunda Guerra mundial, evento marcante na história humana do século
XX, foi um evento onde potências mundiais foram aos flancos em um embate físico
e mortal, encerrando-se, por completo, em 1945 com a rendição japonesa perante
os Aliados após o lançamento de duas bombas atômicas nas cidades de Hiroshima e
Nagasaki.
Estas bombas, que foram um marco não só na história do Japão, mas da
história mundial. Mudou as relações de poder entre as nações, fazendo com que
mudasse a relação de poder no mundo. Iniciando-se a Era Atômica, onde quem
detinha a tecnologia era temido e a corrida armamentista em busca da bomba não
só era um anseio pela destruição, mas sim, uma garantia de soberania e
segurança nacional, visto que atacar um país armado com bombas nucleares tornava-se
desvantajoso, principalmente pelo poder de retaliação.
No dia 06 de agosto de 1945 foi lançada a bomba atômica de Hiroshima,
que ocasionou cerca de 90 mil mortos na explosão imediata e pouco depois, fora
os reflexos que há após a jogada de uma bomba atômica, por conta da radiação
(HENSHALL, 2005, p. 183), pegando o Japão, e porque não o mundo, de surpresa.
Com apenas uma bomba foi feita esta devastação. Todavia, os nipônicos não deram
sinais de rendição. Sua cultura de ‘fé em um Japão inabalável e indestrutível’
permanecia. Se render seria desonrar os milhões que morreram em batalha,
dando-lhes uma ‘morte em vão’.
O espírito guerreiro do povo japonês era totalmente diferente de
qualquer inimigo jamais visto no mundo ocidental. Por conta de sua cultura e
tradições, não temiam a morte, pois ela era frequentemente utilizada em sua
sociedade, não sendo um tabu, como nas sociedades ocidentais. O suicídio, por
exemplo, era tido como uma saída honrosa em diversas situações até mesmo
cotidianas, e este mecanismo foi utilizado também na guerra através dos famosos
pilotos Kamikaze.
Parafraseando Ruth Benedict (1972, p. 29), o espírito japonês chegava
até mesmo a sobrepujar a própria morte. Quanto mais inválido, cansado,
castigado estava o corpo japonês, mais forte estava seu espírito.
Após Hiroshima, os americanos esperavam que os japoneses sinalizassem
com um pedido de rendição, o que não seria nada absurdo para a cultura
ocidental dada as devidas circunstâncias. Para piorar a situação dos nipônicos,
dois dias depois os soviéticos, que estavam relutantes em declarar guerra
contra os japoneses mesmo durante o ápice da Segunda Guerra o fizeram e
atacaram a região da Manchúria. (HENSHALL, 2005, p. 183). Dada a ausência de
resposta dos japoneses à bomba atômica e à invasão soviética, os Estados Unidos
optaram por mais um ataque nuclear.
No dia 09 de agosto de 1945, os americanos realizaram mais uma amostra
de suas poderosas bombas nucleares. Estima-se que em Nagasaki foram 50 mil
mortos imediatos e 30 mil ao decorrer dos anos seguintes como reflexo da
explosão (HENSHALL, 2005, p. 183), este número ainda deve-se ao fato de que a
bomba não acertou em cheio a cidade, caindo na parte norte, longe dos
principais comércios, e que era circundada por montanhas. E essa peculiaridade
da geografia local, “protegeu” a outra parte da cidade da explosão servindo
como uma ‘barreira natural’. (CAULLIRAUX, 2005, p. 515-516)
O discurso derradeiro
do Imperador
Os Estados Unidos da América, mesmo após a bomba de Nagasaki,
continuavam pressionando Tóquio e as outras cidades com bombardeios, agora não
nucleares, de seus famosos aviões B-29, pois o presidente americano, Harry
Truman acreditava que estes bombardeios incessantes ajudariam a pressionar o
Japão para uma rendição, e foi o que justamente aconteceu.
Seis dias depois, após incansáveis negociações dentre os influentes do
governo japonês, no dia 15 de agosto do ano de 1945, o Imperador Hirohito fez
um discurso em cadeia nacional para todo o Japão, declarando o aceite da
Declaração de Potsdam, feita em 26 de julho de 1945 e também conhecida como a
proclamação que definiu os termos da rendição japonesa. Segue a carta na
íntegra abaixo:
AOS NOSSOS DIGNOS E LEAIS SÚDITOS:
Após avaliar profundamente os rumos gerais do mundo e as atuais condições
avançadas em Nosso Império, hoje, Nós decidimos levar a efeito o término da
situação presente recorrendo à uma medida extraordinária.
Nós encarregamos o Nosso Governo de comunicar aos governos dos Estados
Unidos, Grã Bretanha, China e União Soviética, que o Nosso Império aceita as
condições de sua Declaração Conjunta.
Empenha-se para a prosperidade comum e felicidade de todas as nações,
assim como a segurança e bem-estar de Nossos súditos, é obrigação solene que
tem sido transmitida pelos Nossos Ancestrais Imperiais, os quais repousam
intimamente em Nosso coração.
De fato, Nós declaramos guerra à América e Bretanha pelo Nosso sincero
desejo de assegurar a auto-conservação do Japão e a estabilização do Leste da
Ásia, estando longe do Nosso pensamento violar a soberania das outras nações ou
proceder a expansão territorial.
Porém, agora a guerra tem continuado, aproximadamente por quatro anos. A
despeito do melhor que tem sido feito por todos combatentes corajosos das
forças militares e navais, a perseverança e zelo de Nossos servidores do Estado
e o devotado serviço de Nosso um milhão de pessoas – a situação da guerra não
tem necessariamente se desenvolvido em vantagem para o Japão, ao mesmo tempo
que o rumo geral do mundo tem se voltado todo contra seu interesse.
Além disso, o inimigo começou a empregar uma nova e cruel bomba, cujo o
poder de destruição é, de fato, incalculável, trazendo a mortalidade de muitas
vidas inocentes. Se Nós continuarmos a lutar, não teria somente como resultado,
um definitivo colapso e obliteração da nação japonesa, mas também conduziria a
total extinção da civilização humana.
Tal sendo a situação, como Nós salvaríamos os milhões de Nossos súditos
ou espiaríamos diante os espíritos santificados de Nossos Imperiais Ancestrais?
Esta é a razão porque Nós ordenamos a aceitação das disposições da Declaração
Conjunta das Potências.
Nós somente podemos expressar o mais profundo sentimento de pesar às
Nossas Nações Aliadas do leste da Ásia, que têm consistentemente cooperado com
o Império para a emancipação do leste da Ásia.
A lembrança daqueles praças e soldados, assim como outros que caíram nos
campos de batalha, aqueles que morreram em seus postos de dever, ou aqueles que
encontraram a morte prematura e todas suas famílias enlutadas, afligem Nosso
coração dia e noite.
O bem-estar dos feridos e dos sofridos pela guerra e daqueles que
perderam seus lares e seus sustentos, são objeto da Nossa profunda apreensão.
A privação e sofrimento a que Nossa nação estará sujeita, daqui por
diante, serão certamente grande. Nós estamos imensamente cientes do mais
profundo sentimento de todos, Nossos súditos. Entretanto, de acordo com os
ditames do tempo e do destino, é que Nós resolvemos pavimentar o caminho para a
grande paz, para todas as gerações por vir, até mesmo suportar o insuportável e
tolerar o intolerável.
Por ter sido capaz de salvaguardar e manter a estrutura do Imperial
Estado, Nós estamos sempre com todos, Nosso dignos e leais súditos confiando na
suas sinceridade e integridade.
A cautelem-se rigorosamente de qualquer irrupção de emoção que possa
engendrar complicações desnecessárias ou contenção fraternal e antagonismos,
que possam dar origem à desordem, conduzindo-os a erro e a perda de confiança
do mundo.
Permitam que toda nação continue como uma família, de geração à geração,
sempre firme em sua fé na imperecibilidade do seu solo sagrado, ciente de seu
pesado fardo de responsabilidades e do longo caminho, a percorrer, pela frente.
Unifiquem seu vigor total, sejam devotados à construção do futuro.
Cultivem os caminhos da retidão, favoreçam a nobreza do espírito e trabalhem
com determinação, assim poderão elevar a glória inata do Imperial Estado e
permanecer em paz com o progresso do mundo.
(AOS NOSSOS DIGNOS E LEAIS SÚDITOS, 2005, p. 542-543)
A importância desta proclamação vinda do imperador é gigantesca, pois os
japoneses estavam prontos para dar a vida em prol da causa do imperador. Não
apenas com a tática de guerra conhecida como Kamikaze, mas também em seu
contingente interno. A população japonesa era tão devota à casa imperial que
bastou uma ordem, denominada de Operação Defesa da Pátria (KAMIKAZE, 2007) que
todos os japoneses dariam sua vida para defender seu território, sendo mesmo os
civis um material humano bélico, o que dificultaria a invasão territorial
japonesa e o controle da população por parte dos inimigos. David C. Earhart
brilhantemente denominou este fenômeno como “kamikazificação do front interno”
(EARHART, 2008, p. 409-457).
De fato, a população japonesa se armou para repelir a possível invasão
terrestre dos inimigos, mesmo que esta defesa custasse a própria vida. Por
estarem sem recursos, os japoneses ingenuamente se armaram com lanças de bambu
afiadas (GONÇALVES, 2011, p. 7), para enfrentar os Aliados, o que pode até caracterizá-los
como suicidas que estavam prontos para o suicídio honroso, que há muito já
fazia parte da cultura japonesa (NITOBE, 1905, p. 47).
Não havia honra em ser prisioneiro. Mesmo após a derrocada e Okinawa, e
com a derrota iminente, os japoneses lutaram até o último homem, deixando de
lado qualquer extinto de sobrevivência e transformando-se em granadas humanas
para cima das tropas americanas, demonstrando que a ordem do imperador de
‘kamikazificação’ estava mais forte do que nunca. Não era apenas os pilotos
Tokkotai ou Kamikaze que estavam dispostos a se suicidarem causando avarias aos
inimigos, os combatentes em terra também, e até os civis.
O medo de ser prisioneiro desonrado era maior que a morte. Quando não
tinham mais recursos em Okinawa, uma delegação japonesa pediu aos americanos um
cessar-fogo para que os combatentes japoneses remanescentes tivessem tempo de
se suicidar de acordo com a tradição do país (MORRIS, 2010, p. 416).
A honra presente na
rendição
A declaração de rendição de Hirohito exemplifica bem o que é a honra
japonesa mesmo após a derrota. Nos primeiros dois parágrafos da carta, temos o
Imperador aceitando os termos da Declaração de Potsdam, sem citar este nome por
todo o documento, dando a entender à sua população que foi uma decisão tomada
após uma proposta de paz vinda dos aliados. Porém, a Declaração de Potsdam
prevê guerra contra o Japão até ele “deixar de resistir” e apenas a “rendição
incondicional” feita formalmente e com garantias de boa-fé faria com que a
guerra cessasse naquele instante, e caso não fosse aceita a Declaração de
Potsdam, que foi feita um mês antes das bombas atômicas e foi prontamente
rejeitada pelo governo japonês na época, a única alternativa dada para o Japão
pelo Aliados em caso de recusa da rendição foi a “destruição imediata e total”.
(FILHO e BEZERRA, 2018, p. 4-5)
Sob o mesmo ponto de vista, não se lê a palavra ‘derrota’ em toda a
carta. A mensagem que Hirohito quis transmitir é a de que a decisão de cessar a
guerra é para o bem comum de todas as nações, e não apenas o Japão. No quinto
parágrafo, a situação japonesa é descrita como ‘não necessariamente vantajosa’
mesmo após duas bombas nucleares devastarem as cidades de Hiroshima e Nagasaki.
Nota-se o conservadorismo nas palavras de Hirohito, dado a situação caótica do
país.
No parágrafo seguinte, temos o exemplo da tentativa de enobrecer a
rendição por parte do imperador japonês quando ele diz claramente que se o
Japão continuasse a lutar a humanidade toda será extinta graças ao emprego das
bombas atômicas americanas. Dizendo isso, dá a entender que a causa do cessar
fogo japonês é nobre e coloca o Imperador e a nação japonesa saindo por cima da
guerra, com a moral ilibada, talvez até aliviando o peso da morte dos japoneses
por conta da guerra de seus ombros.
Seguindo adiante, o imperador transmite que ele, com toda sua sabedoria,
fora o grande responsável para a paz, embora esteja implícito que ele sabia que
a palavra ‘derrota’ embora não empregada, estava pairando na carta. A casa
imperial sabia da lealdade de seus súditos e o comprometimento com a vitória,
que os japoneses não teriam honra de se render. Até porque havia um movimento
que após a decisão de rendição tomada, tentou evitar a divulgação da carta
imperial ao povo japonês em uma tentativa de fazer com que o imperador Hirohito
reconsiderasse a posição e não parasse a guerra. Invadiram a casa do primeiro
ministro e de outros políticos em busca do disco em que estava o pronunciamento
do imperador para todo o povo japonês, porém, fracassaram. (CAULLIRAUX, 2005,
p. 534-541) O pronunciamento radiofônico tornara-se público, pela emissora NHK
e foi acatado como ordem.
Com este cuidado que o imperador escreveu que era necessário “suportar o
insuportável e tolerar o intolerável” (CAULLIRAUX, 2005, p. 543). Fazia parte
do insuportável a rendição perante os americanos, suportar a dor de seus iguais
que se foram como mortes em vão, pois o objetivo não foi alcançado e tolerar a
derrota, que significava a desonra de todos os japoneses vivos e mortos. Muitos
japoneses não conseguiram cumprir esta ordem do imperador e conviver com este
fardo, e, com este dilema, praticaram do suicídio como uma saída honrosa.
Por conta dos incidentes e da honra dos japoneses, temos no
antepenúltimo parágrafo da transmissão radiofônica uma expressão que denota
preocupação com a aceitação da rendição e da derrota por parte do povo japonês.
O imperador Hirohito utiliza-se do termo ‘acautelem-se’ para os japoneses
segurar a emoção e não se rebelarem contra os americanos, outrora inimigos.
Esta preocupação é legítima e digna, pois há pouco todos os japoneses estavam
dispostos a morrer pela sua pátria e agora tem que fazer exatamente o oposto,
que é viver por ela.
E esta mensagem foi recebida pelos japoneses como um ânimo após os bombardeios
e incessantes incêndios provocados por bombas napalm. Os nipônicos tinham que,
mais do que nunca em sua história, se reerguer fraternamente, deixar as
diferenças de lado, pois uma revolta ao pronunciamento só atrapalharia o país a
se reconstruir, podendo trazer problemas de confiança para com o mundo externo
e construir um futuro melhor e, principalmente, em paz.
Conclusão
Em resumo, podemos concluir que o objetivo do édito imperial lido pelo
imperador Hirohito possui uma magnífica relevância histórica, possuindo nele um
retrospecto de como era a cultura japonesa, principalmente da honra. Tem-se
nesta carta, inserções da preocupação com os costumes dos japoneses após
sacramentada a derrota da Segunda Guerra mundial, assim como um direcionamento
para a paz e reconstrução do Japão.
Hirohito fez com que, apesar do espírito guerreiro dos japoneses, fosse
possível uma convergência com as nações em relação aos objetivos de
prosperidade. Foi observado também a lealdade que a população japonesa possui à
casa imperial, acatando sua ordem mesmo que à custo de suas próprias vidas,
pois mesmo após a rendição, os que não concordavam com o fato e não conseguiram
viver sob a derrota, se suicidaram, não tentando causar revoltas ou planos para
contestar a decisão final do imperador.
Antes da decisão final, foi observado que houve uma conspiração para que
o imperador reconsiderasse sua posição, porém não para derrubá-lo, o que também
exemplifica a devoção dos japoneses à casa imperial.
Por fim, a tentativa de poupar os japoneses do sentimento de fracasso
foi clara na carta lida por Hirohito quando o mesmo não escreve em nenhum
momento a palavra ‘derrota’, o que infligia desonra ao povo japonês. Tentando
aliviar a dor de todos a todo o momento do texto, Hirohito se compadeceu com os
mortos e com os vivos, encerrando com palavras que previam um futuro melhor do
que o presente de caos, escassez e destruição que perduravam no Japão durante a
guerra. E hoje, com o Japão sendo referência em vários índices de qualidade de
vida, saúde, segurança, educação e etc, vimos que ele estava certo e que foi
possível reerguer o país das cinzas da terra arrasada com a fraternidade, a
retidão e a nobreza de espírito, mencionadas nos dois últimos parágrafos do
édito.
Referências
Pedro Antonio Saraiva de Carvalho Pereira Francez é Bacharel em Relações
Internacionais pela Universidade Via Velha e atualmente Mestrando de História
Social das Relações Políticas pela Universidade Federal do Espírito Santo,
sendo bolsista da CAPES.
Email: pedrofrancez27@gmail.com
AOS NOSSOS DIGNOS E LEAIS SÚDITOS.
in. CAULLIRAUX, Heitor Biolchini. Hiroshima 45 o grande golpe: da concepção do átomo à tragédia
de Hiroshima, p. 542-543. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2005.
BENEDICT, Ruth. O Crisântemo e a Espada: Padrões da cultura japonesa.
São Paulo: Editora Perspectiva, 1972.
CAULLIRAUX, Heitor Biolchini. Hiroshima 45 o grande golpe: da concepção
do átomo à tragédia de Hiroshima. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2005.
FILHO, Sidney Soares; BEZERRA, Samuel Monteiro. As
bombas sobre Hiroshima e Nagasaki: Um precedente ao terrorismo atômico. Uni7,
2018. Disponível em:
<https://www.uni7.edu.br/periodicos/index.php/iniciacao-cientifica/article/view/673/545>.
Acesso em: 09 de julho de 2019.
GONÇALVES, Edelson Geraldo. Kamikaze: O papel do
“vento divino” no imaginário japonês. In: CAMPOS, A. P.; GIL, A. C. A.; SILVA,
G. V. da; BENTIVOGLIO, J. C.; NADER, M. B. (Org.). Anais eletrônicos do III
Congresso Internacional Ufes/Université Paris-Est/Universidade do Minho:
territórios, poderes, identidades (Territories, pouvoirs, indentités). Vitória:
GM Editora, 2011, p. 1-9.
HENSHALL, Kenneth. História do Japão. Lisboa: Edições 70, 2005.
KAMIKAZE (KAMIKAZE – WINGS
OF DEFEAT). Direção: Risa Morimoto, Produção: Linda Hoaglund.
Edgewood Pictures, 2007. DVD.
MORRIS, Ivan. La nobleza del fracaso: Héroes trágicos de la historia de
Japón. Madrid: Alianza, 2010.
NITOBE, Inazo. Bushido: the
soul of Japan. Londres, G. P. Putnam’s Sons, 1905.
As intenções nipônicas para a continuação da guerra não são citados no pronunciamento imperial. É possível que menciona-las exporiam os súditos ao sentimento de fracasso e derrota? O Japão até hoje não diz claramente ter perdido a guerra, sendo que seria "loucura" continuar com ela mesmo antes das bombas? Por fim, esse nobre sentimento de honra e o desejo de continuar a guerra podem ter sido responsáveis pelos bombardeios ou os EUA manteriam esse plano para mostrar sua soberania bélica?
ResponderExcluirCrislli Vieira Alves Bezerra.
Continuando Crislli,
ExcluirEnfim, acredito que os planos do primeiro bombardeio dos EUA não mudaria, porém, o segundo foi agravado pelos soviéticos querendo parte na guerra, onde também iria querer controlar territórios se fosse vitorioso, assim como fez com a Alemanha Oriental. Para evitar isso, e claro, de quebra mostrar a soberania bélica, os EUA soltaram a segunda bomba.
Também há relatos bibliográficos de que o Japão se rendeu pois um piloto americano capturado na guerra mentiu e disse que haveria uma terceira bomba nuclear jogada em Tokio caso o Japão não se rendesse, curiosidade.
Sobre o orgulho japonês, leia Inazo Nitobe - BUSHIDO
Há também um documentário com testemunhas que eram pilotos Kamikaze chamado Wings of Defeat, encontrado facilmente no youtube! Recomendo!
Agradeço imensamente suas recomendações! Se caso houver um artigo sobre os projetos das bombas e a perspectiva norte americana sobre elas, por favor, me informe! Adoraria ler mais!
ExcluirE parabéns pelo texto, excelente!
Crislli
Boa tarde, Crislli!
ResponderExcluirRespondendo em ordem: O pronunciamento imperial não queria continuar a guerra, o Japão aceitou a 'derrota', porém do jeito deles, com o orgulho japonês e a alma samurai. A guerra já dava notar como perdida para o Japão quando eles fizeram as táticas Tokkotai, mais conhecidas por nós como Kamikazes. Digo isto, porque era uma tática desesperada onde foi sacrificado pilotos experientes para afundar navios americanos com a própria vida. Logo, com os abates americanos e os Kamikazes, foram acabando os pilotos experientes e o Japão recrutou estudantes e os colocou nos aviões com pouquíssima experiência. Só nisso, já tinhamos indícios de que a guerra estava desfavorável ao Japão, porém, Kamikaze significa 'ventos divinos', que foram os mesmos 'ventos divinos' que salvaram o Japão de uma invasão mongol em 1275 afundando a esquadra marinha dos inimigos! Eles realmente esperavam que, mesmo na desvantagem, ocorresse um milagre..
Está certíssima sua observação! O Japão até hoje não diz com todas as letras que perdeu a guerra, pois, como dá-se a entender no pronunciamento imperial, eles se 'retiraram da batalha para salvar o mundo da nova arma mortal dos inimigos'.
A sua última pergunta é um tópico que quero completar neste artigo futuramente! O presidente dos EUA, Roosevelt, tinha o plano de após os aliados derrotarem Hitler, convidar o imperador japonês a um deserto e fazer uma demonstração do poderio das bombas para ver se o japão se renderia, porém, ele morreu!
O que assumiu no lugar, Harry Truman, decidiu continuar a guerra até a costa japonesa. Mesmo com sucessivas derrotas, o Japão se mostrava irredutível em se render. Após retomarem praticamente todos os territórios que os japoneses haviam conquistado, como Filipinas, Formosa, a famosa Iwo Jima e diversas outras ilhas, os americanos chegaram no Japão 'continental', digamos assim, pois o Japão é um conglomerado de ilhas, mas existem as principais, que foram tomadas na batalha de Okinawa (e apenas essa batalha matou mais do que a explosão da bomba de Hiroshima, claro, sem contar os efeitos colaterais da bomba, que mataram muito mais e ainda matam), que é muito próxima a ilha principal japonesa e havia uma cidade importante estabelecida também. Logo, o imperador deu a ordem de que todos os cidadãos japoneses eram kamikazes.
Mulheres no Japão começaram a fazer lanças de bambu para defender o país territorialmente com sua própria vida, em caso de invasão enquanto homens cada vez mais jovens se lançavam ao exército. Se toda a população civil virou 'combatente' ao invés de se render, fica complicado para a invasão terrestre e domínio. Calcula-se que, caso os Aliados resolvessem invadir o Japão e tomar Tókio, perderiam quase 1 milhão de soldados. Fora as baixas japonesas.
Concordo que Truman ainda tinha a opção de continuar o plano de Roosevelt em mostrar a bomba para ver se ocasionaria uma rendição e não o fez.
Os soviéticos estavam relutantes em entrar em guerra com o Japão, pois tinham boas relações, porém, quando viram que o Japão estava derrotado, após a bomba atômica de Hiroshima, os soviéticos resolveram entrar na guerra e prontamente atacou a manchúria um dia antes das bomba de Nagazaki.
Mesmo após o lançamento da bomba de Hiroshima e a declaração de guerra dos soviéticos, o Japão não se rendeu. Há fontes bibliográficas que citam que eles estavam em reunião interna para rendição, porém, a demora de três dias fez com que os Estados Unidos soltasse a bomba de Nagazaki.
Soldados de alta patente e pessoas importantes do governo cometeram suicídio por conta de discordarem da rendição mesmo após Nagazaki por não saberem conviver com a derrota japonesa e o sentimento de que as vidas sacrificadas dos soldados foram em vão.
Boa tarde, antes de realizar a pergunta gostaria de parabenizar seu trabalho, ficou bastante interessante. Bom, mediante a este contexto histórico da Segunda Guerra Mundial, o papel do Japão na guerra e justamente o papel de máxima importância do imperador para esta nação, e ai sabemos como que os valores de lealdade, honra, coragem, etc., eram presentes em cada individuo, como você enxerga essa imagem imperial pós Segunda Guerra? Como que a imagem imperial (aqui já com influências norte americanas) sofreu mudanças dentro da sociedade?
ResponderExcluirAbs. Gabriella Oliveira
Boa tarde, Gabriella! Obrigado pelas palavras!
ExcluirO imperador japonês, assim como a família real inteira, eram muito recatados nos palácios. O imperador era visto como um Deus! Nisso, no pós guerra, os EUA e os aliados fizeram questão de descaracterizar sua imagem e, para isso, promoveu viagens do imperador a cidades pelo Japão, para todos verem-no como 'um humano', 'um velhinho simpático', e isso foi muito importante para mudar a concepção do imperador! Antes, o imperador tinha a imagem de ser 'O ESCOLHIDO POR DEUS', hoje em dia, é um chefe de Estado, como um presidente ou um primeiro ministro.
Abraço!
Pedro Francez, tema importante e indissolúvel na história da Humanidade. O discurso do Imperador Hirohito, percebe-se como ato tardio, mas moderado justamente pelo olhar dos japoneses como um representante para além da circunscrição política. É um membro quase sagrado. No entanto, algo que me intrigou é o porquê de o Imperador nunca ter sido responsabilizado pelos crimes de guerra. Dos líderes do “eixo do mal” – Alemanha Nazista, Itália Fascista e o Japão, foi o único a seguir vivo. Assim, a imagem que tenho em mente do Imperador é a de um “deus” antes e o reconstrutor posteriormente, vide as imagens da abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964, que é o auge dessa reconstrução desse discurso. Portanto, compartilho de sua interpretação da carta, bem como essa problemática que elenquei, nunca consegui ainda compreender. Apesar de que, a única hipótese que me parece sensível é a condição de liderança incondicional e a sua palavra definidora da “vida e da morte”.
ResponderExcluirSaudações,
Jadson da Silva Bernardo.
Olá Jadson! Realmente temos perspectivas iguais!
ExcluirO imperador não foi responsabilizado justamente por conta de sua adoração e lealdade perante a sociedade japonesa! Os EUA viram que caso condenassem ou depusessem o sistema de império do Japão, a população poderia ficar ingovernável e, em situações de kamikazes, seria difícil controlar uma população toda combatente. Então, os EUA e os Aliados resolveram 'anistiar' o imperador caso ele trabalhasse em favor da paz. No Pós-guerra, quando os Estados Unidos, através do famoso General MacArthur, começou um governo militar provisório no Japão, foi decidido que o imperador viajaria pelo país à fim de acalmar a população revoltosa e frustrada com a derrota. Essas viagens também serviram para descaracterizar o imperador como 'deus', visto que ele não saía muito do palácio, e fazê-lo passar a imagem de 'apenas um velhinho simpático e humano' para o povo japonês. Foi feito um estudo da CIA antes de invadir o Japão sobre a cultura e sociedade japonesa, esse estudo foi publicado depois (com várias mudanças, imagino eu hahahahaha) como livro!O nome do livro é O Crisântemo e a Espada, de Ruth Benedict! nele, nos dá a entender que a democracia não consegue ser uma ideia plausível em uma sociedade acostumada com a hierarquia e subordinação. Os aliados teriam muita dificuldade caso tentassem exportas os modos ocidentais para a cultura do Japão, principalmente à força no pós-guerra. Abraço!
Grato pelo comentário e indicação de leitura.
ExcluirAbraço,
Jadson da Silva Bernardo.
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ResponderExcluirTexto muito bom, meus parabéns. Após o conflito entre os EUA e Japão, há a presença americana em território japonês auxiliando na recuperação deste país e mantendo a sua influência. Eu gostaria de saber, quando pensamos no Japão como uma nação que apresentou um nacionalismo exacerbado durante a Segunda Guerra Mundial, como teria sido a reação da população japonesa em um aspecto geral, sobre a presença americana no país no período pós-guerra?
ResponderExcluirAfranio Junior de Melo Barros
Bom dia, Afrânio!
ExcluirDurante o governo provisório americano, tudo isso foi pensado. O medo dos Aliados sobre o Japão fazer uma guerra civil e revolta por conta do nacionalismo japonês era enorme! Por isso que os americanos só resolveram entrar após a rendição japonesa, e não antes.
A devoção ao imperador pelos japoneses era tão grande que, para evitar uma guerra, antes o imperador teria que dar a ordem para a população acatar aos estrangeiros que viriam governar provisoriamente.
Inclusive, por conta disso, que o imperador japonês foi o único líder derrotado poupado da morte. Pois caso matassem o imperador, haveria uma revolta geral e o Japão seria ingovernável.
Sobre a população japonesa, após a ordem do imperador nesse édipo imperial, todos acataram bem, sem demais conflitos. Os Estados Unidos também fizeram o imperador viajar pelo país para confraternizar com seus súditos, assim, descaracterizando sua imagem de de SOBERANO e ESCOLHIDO POR DEUS, associando-a apenas ao que ele era, "um velhinho simpático e humano".
Os EUA também entraram diferente ao Japão, com o propósito de auxiliá-los e reconstruí-los, após as bombas atômicas. Logo deu para perceber que seriam os melhores aliados possíveis.
Antes da invasão americana por terra ao Japão, a CIA encomendou um estudo antropológico no meio da guerra para entender a cultura e o pensamento dos japoneses para não terem problemas futuros. O estudo fora publicado 5 anos após a guerra como um livro: O Crisântemo e a Espada, de Ruth Benedict. Vale a pena ler!
Abraços e obrigado pela pergunta!